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Andrew Crumey é autor de várias novelas, doutorado
em Física, ex-editor do jornal Scotland on Sunday e astrónomo amador. Hoje publica no Aeon
Magazine um artigo Intitulado "O Sol Não Nasce", com o sub-título
"Como o pensamento mágico assombra a linguagem do dia a dia e há ideias fossilizadas
mesmo na ciência mais sofisticada".Segundo o autor, há ciências que são vítimas mais "a jeito" para o fenómeno do "pensamento mágico". Actualmente, o caso paradigmático é o da Astronomia que metade dos americanos acham não ser ciência — provavelmente porque não fazem distinção entre ela e a Astrologia. Mas o fenómeno ocorre com as mais circunspectas e respeitáveis ciências, como a Física, a Biologia e praticamente todas as outras.
Para Crumey, é o Princípio da Eterna Insensatez que explica o fenómeno; e quando fala em "eterna", Crumey refere-se ao passado, mas também ao presente e ao futuro! É da natureza do homem ser insensato. Estamos no Século XXI e todos os dias se diz que "o Sol nasce", ou "nasceu", embora saibamos há cinco séculos que o Sol não se mexe: nós é que nascemos para ele.
A maior parte das explicações do Universo e seus fenómenos começou por ter origem nas religiões. Com o desenvolvimento do método científico, muitas delas — quase todas — adaptaram-se a novas versões; mas a tradição deixou marcas indeléveis na cultura, incluindo a científica, sob a forma de expressões e conceitos errados. Assim dizemos que o nosso olhar "caiu" sobre uma frase, uma flor, uma carta, seja o que for, quando é a radiação reflectida pelo papel onde a frase está escrita, pela flor, pela carta, que vem ao encontro dos nossos olhos — tal e qual! Os exemplos podia dá-los até amanhã de manhã.
Mas
estamos todos em boa companhia. No Século XVI, o ilustre investigador da
corte dinamarquesa Tycho
Brahe realizou inesperadas e precisas medições astronómicas que refutaram
definitivamente as teorias de Ptolomeu. Contudo, Tycho Brahe também fazia
previsões mundanas, baseadas na posição dos astros, para o seu real
patrão: um predecessor da Maya!E poucos anos depois de publicar a obra
científica clássica Pincipia (1687), Isaac Newton começou a
escrever o tratado "Sobre a Origem da Religião e sua Corrupção", onde
defende que a verdadeira religião foi a de Noé, com altares centrados por fogo
sagrado, representando o Sol como o centro do Universo.
Actualmente, consideram-se os escritos de Newton como pertencendo a uma de três categorias: científicos, religiosos e alquímicos. Provavelmente, Newton não se apercebia disso: alguns manuscritos tinham fórmulas matemáticas no meio de dissertações teológicas.Hoje, os manuscritos estão correctamente separados: os científicos na Universidade de Cambridge; os religiosos foram comprados pelo judeu Abraham Yahuda e estão na Biblioteca Nacional de Israel; os alquímicos, comprou-os John Maynard Keynes, personalidade que considera Newton como Copérnico e Fausto na mesma pessoa; o último "mágico" — com um pé na Idade Média e outro na ciência moderna. Nós todos, no dia a dia, também temos um pé em cada lado: um na arca de Noé e outro no "Costa Fortuna".
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