Ross Anderson
é editor senior da "The Atlantic", onde coordena as secções de Ciência,
Saúde e Tecnologia. Um dos seus artigos mais recentes intitula-se "Omens" ("Augúrios") e tem o sub-título Quando perscrutamos através da bruma profunda
do futuro, o que vemos — a extinção da humanidade ou um futuro entre as
estrelas?
Está baril!!!
Dada a extensão do texto, não é possível
fazer um resumo com dimensão para post
de blog; mas vale a pena seleccionar algumas passagens mais importantes do meu ponto de vista. Começo por chamar a
atenção para a pergunta que Anderson deixa para os leitores darem a sua opinião: "O Universo (provavelmente) acabará
um dia. Devemos começar a pensar em fazer alguma coisa sobre isso?"
Depois começa assim:
Há nove boas razões para qualquer espécie
pensar no futuro negro da sua própria
extinção. Noventa e nove por cento das espécies que viveram na Terra desapareceram,
incluindo mais de cinco hominídeos capazes de usar ferramentas. Um olhar rápido
para fósseis basta para pensar que a Terra, com o tempo, se está a
tornar mais perigosa. Se dividirmos a história do planeta em nove idades, ou
períodos, cada uma com quinhentos milhões de anos, só na nona encontramos
extinções em massa que liquidaram mais de dois terços de todas as espécies.
[...]
E continua, mais adiante:
[...] A vida unicelular surgiu cedo na
história da Terra. Poucas centenas de milhões de voltas ao recém-nascido Sol
bastaram para arrefecer o nosso planeta e dar-lhe os oceanos, laboratórios
líquidos que fazem milhares de biliões de experiências químicas por segundo.
Algures naqueles mares, a energia chegou a um daqueles cocktails químicos
transformando-o num replicador, combinação de moléculas capaz de enviar versões
de si própria para o futuro.
Durante muito tempo, os descendentes
daquele replicador permaneceram seres unicelulares. Estiveram ocupados a preparar o planeta para a emergência de
animais terrestres, enchendo-o de oxigénio respirável e envolvendo-o com uma
camada de ozono, protectora contra a radiação ultravioleta.
A vida multicelular só apareceria há 600
milhões de anos. No espaço de 200 milhões, a vida passou para a terra, tornou
os continentes verdes e pegou fogo ao rastilho da explosão Cambriana, um pico sem
par da criatividade biológica nos registos geológicos. A explosão Cambriana foi
o berço das múltiplas categorias da vida animal.
Ninguém sabe o que causou as cinco
extinções em massa ocorridas desde o período Cambriano. Mas temos ideias acerca de algumas. A mais recente foi provavelmente
devida ao impacto cósmico de um corpo vindo do espaço e que terá exterminado os
dinossauros. O nicho ecológico para os mamíferos cresceu na sequência dessa tragédia,
o mesmo acontecendo com os seus cérebros. Um subsector desses cérebros,
eventualmente, aprendeu a fazer ferramentas a partir de rochas e a usar sons
como símbolos para comunicar pensamentos. Armados com este tipo de
comportamentos extraordinários, rapidamente
conquistaram a Terra, cobrindo-a com cidades que brilham vistas do
espaço. Foi uma história triste na
perspectiva dos dinossauros, embora simétrica, porque eles também chegaram onde
chegaram depois de outra extinção em massa — cento e cinquenta milhões de anos
antes, uma erupção vulcânica medonha havia exterminado os curotarsi,
concorrentes dos dinossauros. As extinções em massa têm servido como
guilhotinas e/ou aclamadoras de réis e rainhas na vida da Terra.
A prosa já vai longa e, para
atalhar, acrescentarei o fundamental da ideia do artigo de Anderson, ideia transmitida por um seu entrevistado,
o professor de Oxford Nick
Bostrom. Segundo este, o cérebro humano é muito bom para o género de
actividades que é preciso ter na savana — como atirar flechas à caça. Mas
quando precisa usar probabilidades, é uma lástima. E, diz Bostrom, "veja-se o
tempo que levou a chegar à ideia da selecção natural". Os
antigos gregos já tinham todos os dados para lá chegar. Contudo, levou milhares
de anos a fazê-lo. Se tivéssemos uma máquina capaz de fazer inferências, em
vez de termos cérebros humanos, teríamos andado muito mais depressa. Infelizmente, não temos. E isso coloca-nos em situação complicada porque
brincamos com o fogo. E o fogo, neste caso, é a inteligência artificial.
Estamos cada vez mais dependentes dela. Um dia virá em que perderemos o seu controlo — nas ruas, nos cafés, nos restaurantes, nos autocarros,
até nos cinemas, há cada vez mais gente com o "cérebro" na mão — o smartphone! Ao ver tal espectáculo,
fazem-se votos para que o smartphone, ou o computador, não sejam o actual asteróide que extinguiu
os dinossauros, ou a erupção vulcânica que fez o mesmo aos crurotarsi. Estou pessimista!
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