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Se a arte do escrever foi o mais admirável invento do homem, o mais poderoso e fecundo foi certamente a imprensa. Não é ela mesma uma força, mas uma insensível mola do mundo moral, intelectual e físico, cujos registos motores estão em toda a parte e ao alcance de todas as mãos, ainda que mão nenhuma, embora o presuma, baste só por si para a fazer jogar. Imaginavam os antigos uma urna de destinos, a que os tempos e os homens corriam sujeitos: é a imprensa a urna dos destinos trasladada para a terra; potência maravilhosa, formando as opiniões sem ter uma opinião, criando as vontades sem ter uma vontade, condensando ou dissipando forças sem ter força, arrastando aqueles mesmos que julgam dirigi-la, paralisando e quebrando o braço sacrílego que se lhe atreve, medrando com a prosperidade, medrando ainda mais com a perseguição; sol novo que o homem acendeu e não poderia apagar, sol que alumia ou aquece, deslumbra ou abrasa, desenvolve flores e frutos, venenos e serpentes! É a imprensa o maior facto da sociedade moderna, o que marcou a maior época da história universal, fazendo surgir a revolução mãe, a revolução das revoluções, a revolução por excelência. Se a civilização progride com tanta rapidez, a este seu invento o deve, que se tornou o seu carro triunfal, que movido por vapor ou por electricidade, arremete com todos os caminhos ferrados ou pedregosos, devora com igual facilidade os plainos e os alcantis, passa por cima de todos os obstáculos e inimigos, e lá vai para o horizonte incógnito que Deus lhe tem apontado.
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Alexandre Herculano in “Opúsculos”
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