Garcia Redondo, membro da Academia Brasileira, realizou em 3 de Junho de 1911, no Instituto Histórico e Geográfico de S.Paulo, a conferência “Descobrimento do Brasil. Prioridade dos Portugueses na Descoberta da América”, sobre documentos históricos relacionados com o achado da América, e cronologia dos acontecimentos daí deduzível, que aponta para a chegada de Colombo posterior à dos portugueses.
O texto viria a ser publicado em livro. É matéria já muito discutida, mas o interesse é estar bem documentado, com informação interpretada de forma aparentemente irrefutável para quem não é historiador.
Seguem-se algumas passagens, podendo o texto completo, com grafia da época em ficheiro digitalizado pela University of California Libraries, ser lido clicando aqui.
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[...] Em 1435, já o mapa-mundi de Bechario representa a Antilia e outras ilhas, a Oeste dos Açores, acompanhadas da seguinte legenda : — Insule de novo reperte (ilhas recentemente descobertas.) Em 1436, um ano após, aparecem o mapa-mundi de André Bianco e o seu portulano (*) cujas cartas já representam o mar de Baga, o mar dos Sargaços, as Antilhas e o Brasil, figurando este como se fosse uma grande ilha. [...]
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[...] No entretanto, do célebre promontório de Sagres, o Infante D. Henrique vê sumirem-se no mar intérmino as caravelas, que sucessivamente iam partindo à descoberta, e já em 1448, numa carta do portulano de André Bianco, tratando dos descobrimentos dos portugueses, se regista o Brasil de uma forma precisa, na parte Oeste e Sul do Cabo de S. Roque, ao Sul das ilhas do Fogo e Brava de Cabo Verde, na sua verdadeira posição, em frente á costa africana, sendo designado por ilha autêntica e assinalada a sua distância exacta de 1500 milhas do arquipélago de Cabo Verde. Esta carta do portulano de Bianco, bem como os anteriores de 1436 mostram, pois, meus senhores, que o Brasil foi descoberto em 1435, ou antes, por navegantes portugueses e que até das Antilhas já havia noticia nessa época. [...]
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[...] Em 1460 morre o infante D. Henrique, deixando reconhecida toda a costa africana até Serra Leoa e legando ainda á sua pátria os descobrimentos dos arquipélagos dos Açores, de Cabo Verde e do Brasil. A morte do infante não faz, porém, arrefecer o entusiasmo lusitano pelos descobrimentos e já dois anos depois, em 1462, D. Afonso V, por carta régia de 29 de Outubro, faz doação a seu irmão o Infante D. Fernando, filho adoptivo de D. Henrique e seu herdeiro universal, de uma terra achada no mar alto, a Noroeste das ilhas Canárias e da Madeira, que Gonçalo Fernandes havia descoberto. Essa terra não podia ser outra se não a América. Meses antes, por carta régia de 19 de Fevereiro, esse mesmo Afonso V havia feito doação a João Vogado de duas ilhas por ele descobertas no Mar Oceano, às quais dera os nomes de Lono e Capraria. Nos documentos da época, a expressão Mar Oceano era usada para designar o mar que banhava a América, que então ainda não tinha esse nome. Esta doação a João Vogado prova que as duas ilhas Lono e Capraria eram ilhas ou pontos da costa americana. Onze anos depois, em 1473, D. Afonso V, por carta régia de 12 de Janeiro, faz doação à sua sobrinha D. Beatriz, filha do Infante D. Fernando, de uma ilha que aparecera, em 1468, através da ilha de Santiago, e que era uma das Antilhas, aonde só 24 anos depois aportou Colombo. Convém notar que esta descoberta é feita por navegadores portugueses 5 anos antes da chegada de Colombo a Lisboa. Do exposto se conclui que as próprias Antilhas já tinham sido descobertas pelos portugueses muitos anos antes de Colombo lá ir tomar delas posse para a coroa da Espanha. Todas estas consecutivas viagens para o Ocidente formam uma série que já constitui uma brilhante e indiscutível documentação da prioridade dos portugueses na descoberta da América. [...]
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* Portulano era um conjunto de instruções náuticas escritas. Incluía as cartas (cartas-portulano), mas com o tempo passou a usar-se o termo como sinónimo de carta.
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** As figuras são cartas-portulano decorativas. Não ilustram o texto.
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