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Namorado sempre e mulherengo, «amador de mulheres o achegador a elas,» diz F. Lopes, tinha um feitio terno, amavioso. A carnalidade arrastava-o aos maiores excessos, e é provável que tivesse vícios ingénuos. Sua irmã solteira, a infanta D. Beatriz, fora cinco vezes oferecida, outras tantas recusada, a diversos príncipes, nas várias combinações políticas que a sua fértil imaginação criava, e que a sua indolência invencível punha logo de parte. A corte dessa irmã era um viveiro de donas, onde o rei permanentemente satisfazia os seus gostos mulherengos. Foi nessa corte que viu e se perdeu de amores por Leonor Teles. Parece, contudo, que antes disso não amava; porque é próprio dos temperamentos, como era o do rei, não ter paixões. A sua delícia era o gozar indolente dos carinhos e meiguices das mulheres, não era amar. Não é provável, pois, «a suspeita desonesta que alguns tinham da virgindade da infanta ser por ele minguada.» Bastavam ao rei «os jogos e fallas tão a meude misturadas com beijos e abraços e outros desenfados de similhante preço.» Só aos fortes corações é dado amar e enlouquecer. D. Fernando não tinha essa virilidade de carácter. Distinto, perspicaz, engenhoso de espírito, bom, afável de génio, faltavam-lhe o valor que faz os homens, e a vontade que faz os reis. Era uma indolência formada de espírito e sensualidade; uma criatura romântica e simpática; uma mulher, fraca e inteligente, sentada no trono. Leonor Teles conquistou-o, porque tinha o génio de um Homem; e o segredo dessa aliança tenaz não está numa paixão do rei, está na inversão das pessoas e dos sexos. Ela fez-se rei; ele tornou-se a amante, passiva, indolente, sensual.
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Oliveira Martins in "História de Portugal"
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