.
O saltimbanco era são, forte, com grandes cabelos e uns olhos negros elegíacos.
Uma velha rica desejou aquele corpo elástico, a pele cor de mármore e os beiços grossos.
Ora o saltimbanco tinha uma mulher bem-amada e filhos pequenos. De noite, eles deitavam-se entre os farrapos reluzentes, com as nucas sobre um velho tambor, cobertos de estrelas. A velha sabia que aqueles corpos tinham frio e fome: tentou o saltimbanco com cintilações de dinheiro. O saltimbanco vem todo irado para junto da mulher, e apertam-se, amados, sujos e resplandecentes.
Mas o tambor e a flauta dos saltimbacos não chamavam a gente do povoado. Veio o frio: sem lume! Veio a fome: sem pão!
A velha tentou o saltimbanco com cintilações de dinheiro; o saltimbanco, veio todo curvado, abraçar os filhos todos rotos, amarelos, esfomeados e chorosos.
E então a mulher foi encontrar o saltimbanco a lavar-se, a preparar umas roupas brancas e a esfregar o peito com folhas.
– Onde vais?
Ele disse, a chorar: via a fome, o frio, a magreza, a lareira apagada, os trapos sujos, ia para o leito aveludado e quente da velha.
Ela teve um riso doloroso.
– Não vás.
Queria ir ela: ir, sob a névoa, com os peitos nus, para as encruzilhadas, agarrar os homens, os nocturnos, e ali mesmo sobre a erva e o chão duro, torcer-se aos beijos sujos – e entre as sufocações pedir-lhes um bocado de pão.
Ele chorava, arrepelado.
– Tu!
E limpava-lhe, com beijos sagrados, a orla das saias: e arrastava-se pelo casebre – com os joelhos roxos.
Ela queria ir.
– Sou eu que vou: deixa-me ir – disse o saltimbanco com a carne tomada de febres e os olhos reluzentes.
E apertavam-se com um amor angélico. E ela então, chorando, começou a penteá-lo, a lavá-lo, a compor-lhe as pregas, a enfeitá-lo – enquanto Deus dormia.
Uma velha rica desejou aquele corpo elástico, a pele cor de mármore e os beiços grossos.
Ora o saltimbanco tinha uma mulher bem-amada e filhos pequenos. De noite, eles deitavam-se entre os farrapos reluzentes, com as nucas sobre um velho tambor, cobertos de estrelas. A velha sabia que aqueles corpos tinham frio e fome: tentou o saltimbanco com cintilações de dinheiro. O saltimbanco vem todo irado para junto da mulher, e apertam-se, amados, sujos e resplandecentes.
Mas o tambor e a flauta dos saltimbacos não chamavam a gente do povoado. Veio o frio: sem lume! Veio a fome: sem pão!
A velha tentou o saltimbanco com cintilações de dinheiro; o saltimbanco, veio todo curvado, abraçar os filhos todos rotos, amarelos, esfomeados e chorosos.
E então a mulher foi encontrar o saltimbanco a lavar-se, a preparar umas roupas brancas e a esfregar o peito com folhas.
– Onde vais?
Ele disse, a chorar: via a fome, o frio, a magreza, a lareira apagada, os trapos sujos, ia para o leito aveludado e quente da velha.
Ela teve um riso doloroso.
– Não vás.
Queria ir ela: ir, sob a névoa, com os peitos nus, para as encruzilhadas, agarrar os homens, os nocturnos, e ali mesmo sobre a erva e o chão duro, torcer-se aos beijos sujos – e entre as sufocações pedir-lhes um bocado de pão.
Ele chorava, arrepelado.
– Tu!
E limpava-lhe, com beijos sagrados, a orla das saias: e arrastava-se pelo casebre – com os joelhos roxos.
Ela queria ir.
– Sou eu que vou: deixa-me ir – disse o saltimbanco com a carne tomada de febres e os olhos reluzentes.
E apertavam-se com um amor angélico. E ela então, chorando, começou a penteá-lo, a lavá-lo, a compor-lhe as pregas, a enfeitá-lo – enquanto Deus dormia.
.
Eça de Queirós in "Prosas Bárbaras"
.
Sem comentários:
Enviar um comentário