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Na realidade, a realidade é cair de cauda. Andamos tão ocupados com a política doméstica, com as larachas sobre Marcelo, Costa, Passos, Cristas & Cª, com a Taça das Confederações, com as facécias do Trampas e outras coisas menores, que até esquecemos o nosso lugar neste mundo. Acabo de ler um ensaio sobre a nossa posição no Universo, com o sugestivo título Do We Matter in the Cosmos? (qualquer coisa como "Temos Alguma Importância no Universo?"), que me deixou esclarecido/embrutecido por hoje — amanhã esqueço.
Começa o autor — Nick Hughes, da Universidade de Dublin — por esclarecer, para assentar ideias, que vivemos numa galáxia cujo raio, se fosse atravessado à velocidade da luz (± 300.000 km por segundo), consumiria 100.000 anos. Mas, mesmo que, por absurdo, o conseguíssemos, não iríamos muito longe: é que o Universo tem 2 mil milhões (2.000.000.000.000) de galáxias aproximadamente semelhantes.
O Universo começou há cerca de 13,8 mil milhões de anos, com Big-Bang, e se convertêssemos a escala e tomássemos esse tempo por um ano, começando o mundo no dia 1 de Janeiro, o Homo sapiens teria aparecido nesse mesmo ano, às 22H24, de 31 de Dezembro. Seriam agora 23H59:59' desse mesmo ano e dia e é possível que o Homo sapiens não passe da meia-noite. O Universo, pelo contrário, tanto quanto sabemos, é possível que continue e seja eterno.
Portanto, a nossa insignificância física e temporal é avassaladora. Quer isso dizer que somos cosmicamente irrelevantes, acidentais, inconsequentes e por aí fora?
No seu "Pensamentos", Pascal escreveu, em 1669: "Quando considero a curta duração da minha vida, engolida pela eternidade antes e depois, o pequeno lugar que preencho na imensidão dos espaços de que não sei nada e que não sabem nada de mim, fico aterrado. O silêncio eterno destes espaços infinitos aterrorizam-me.
A posição de Pascal é comum, mas sem solução consensual. O filósofo Simon Blackburn, da Universidade de Cambridge, escreve no seu livro Being God: Quando alguém pergunta se a vida humana tem algum significado, só se pode responder: "Para quem?"
A consciência da nossa irrelevância e inconsequência é hoje muito mais nítida que no tempo em que a Terra era o centro do Universo e o mundo girava em volta dela. Os factos referidos a abrir este post, claramente, tornam-nos mais pessimistas e, cada vez mais, isso será evidente. Filosófica e cientificamente não há solução. Pelo contrário, Ciência e Filosofia só agravam o problema — com a NASA, a Estação Espacial Internacional, o Acelerador de Partículas do CERN, ou a sonda Cassini, Pascal estaria hoje muito mais angustiado. Sorte a dele que viveu em tempo de suaves sobressaltos científicos. Ser velho tem algumas vantagens!
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