quarta-feira, 21 de junho de 2017

A VER NAVIOS

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Tive um professor que estudou na Suíça e dizia: "Se vires um banqueiro suíço a saltar da janela do 15º andar, salta logo atrás dele porque é, seguramente, um bom negócio". Sempre me lembro disto quando ouço falar de suíços e hoje lembrei-me quando li que um deles, chamado Christian Zaschke — que suspeito não ser banqueiro —, havia escrito um artigo sobre a Inglaterra e o Brexit no jornal Der Bund, em 17 deste mês.
Felizmente, uma alma generosa chamada Paula Kirby, tradutora, verteu a peça, dessa língua de bárbaros que é o alemão, para inglês e nós pudemos ler Christian Zaschke.

Diz, mais ou menos isto:


Se não fosse tão grave, a situação na Grã-Bretanha seria quase cómica. O País está a ser governado por um robot falante, de alcunha Maybot, que conseguiu visitar a torre ardida no Oeste de Londres sem falar com um único sobrevivente, ou com um dos voluntários que os assistem.
As negociações para a saída do País da UE estão marcadas para Segunda-Feira mas não há plano ou sombra dele. O Governo está dependente de um pequeno partido que dá abrigo a detractores do aquecimento global e a criacionistas. Boris Johnson é Ministro dos Negócios Estrangeiros. O que é que aconteceu a esta Nação?
Há dois anos, Cameron emergiu das eleições legislativas como vencedor brilhante. Assegurou uma maioria absoluta e, como resultado disso, tudo parecia que a carreira deste simpático peso-pluma estava destinada a surpreendentes altos voos. A economia estava a crescer mais rapidamente que em qualquer outro país no mundo. A independência da Escócia, e com ela o desmembramento do Reino Unido, tinha sido evitada. Pela primeira vez, desde 1992, havia uma maioria conservadora na Câmara dos Comuns. A Grã-Bretanha via-se como um actor respeitado no panorama internacional. Era o ponto de partida.
De modo a sair desta confortável situação para o caos presente no menor tempo possível, duas coisas eram necessárias: primeiro, o ódio dos conservadores da ala direita à UE e, segundo, a irresponsabilidade de Cameron ao pôr o futuro da nação dependente de um referendo, para satisfazer alguns fanáticos do seu partido. Tornou-se claro quão extraordinariamente má foi tal decisão. O facto da Grã-Bretanha se ter tornado a chacota da Europa está directamente ligada ao voto no Brexit.
Quem sofrerá mais é o povo britânico que foi enganado com mentiras na campanha para o Brexit, durante o referendo, e atraiçoado e tratado como idiota por elementos da imprensa. A falta de vergonha não tem limites: o "Daily Express" perguntava, com "ar sério", se o incêndio/desastre na Torre 
Grenfell não se devia a terem sido observadas regras da UE na construção. Nada prova a insinuação, mas fica a suspeita de que a UE também é culpada daquilo. Em aparte, diga-se que um País em que parte da imprensa se mostra tão pouco interessada com a verdade que explora um desastre como o da Torre Grenfell para fins de mau gosto, é um problema sério.
Os preços já estão a subir nas lojas, a inflação aumenta. Os investidores recuam. O crescimento económico abranda. E tudo isso antes das negociações terem sequer começado. Com as suas eleições desnecessárias, Theresa May já gastou um oitavo do tempo necessário para elas. Como é possível chegar a um entendimento tão complexo, como as negociações do Brexit, em tão pouco tempo permanece um mistério.
A Grã-Bretanha acabará por perder um dos seus mais importantes parceiros comerciais e ficará mais fraca em todos os aspectos. Faria sentido permanecer no mercado único e na união aduaneira, mas isso implicaria ficar sujeita a regulamentos sobre os quais não teria uma palavra a dizer. Seria melhor ter ficado na UE, em primeiro lugar. Assim, o Governo tem de arranjar um plano que seja ao mesmo tempo aceitável e traga o menor número possível de desvantagens. É uma questão de limitação de danos, nada mais; contudo, mesmo agora, ainda há políticos a trombetear em Westminster que será a UE a sair pior.
A UE vai defrontar um País que não tem ideia sobre que Brexit quer, liderado por uma mulher irrealista com os dias contados e um partido onde se começa outra vez a cavar trincheiras: os conservadores moderados tentam conseguir uma saída soft, mas a linha dura do partido está já a ameaçar rebelião. Uma batalha épica e a paralisia do partido estão aí.
O negociador do Brexit, Michel Barnier, já disse que espera uma posição clara, uma vez que não pode ser ele a tomá-la. O mais irónico disto é que, provavelmente, no interesse dos britânicos, o melhor seria ele fazê-lo.
A sociedade britânica está mais dividida que nunca, desde a guerra civil do Século XVII. Nas últimas eleições, 80% dos votos caíram nos dois maiores partidos e nenhum deles tem um programa centrista: a eleição foi entre extrema-esquerda e extrema-direita. O centro foi abandonado e isso nunca é bom sinal. Numa terra como a Grã-Bretanha, com tradição de pragmatismo e racionalidade, é motivo de preocupação. A situação está mesmo a fic
ar fora de controlo.
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(Esta Senhora é Paula Kirby, que nos fez o favor de traduzir o artigo do alemão)
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