[...] O "caso" Relvas, explorado até à exaustão devido à antipatia natural que o protagonista suscita e, palpita-me, à respectiva área ideológica, é apenas um fragmento de um "caso" muito mais vasto chamado maçonaria.
Não pretendo dizer que a maçonaria é tema ausente do noticiário caseiro. De vez em quando, o bando obtém honras de manchete e debate graças a um pequeno escândalo, conforme há meia dúzia de meses aconteceu com a divulgação de segredos de Estado numa história que envolvia o entretanto lendário Jorge Silva Carvalho, ex-director do SIED, sócio da "loja" Mozart e - o mundo é pequeno - correspondente por sms do "dr." Relvas.
O problema é que, à
semelhança de inúmeras desgraças pátrias, a maçonaria ocasionalmente irrompe em
força nos "media", fomenta discussões apaixonadas, produz gritos
indignados e, após uns dias em que se jura que nada voltará ao que era, tudo
permanece intacto. E "tudo" não é força de expressão: as personagens,
os cargos, as trocas, os favores, os interesses, as ilicitudes, as trafulhices,
etc. Quem acha que o país está óptimo como está deve dar os parabéns à
maçonaria, que em larga medida os merece. Quem acha o contrário, deve dar à
maçonaria outra coisa qualquer. Talvez uma ordem de despejo.
Não sou apreciador
de proibições. Porém, não faltam por aí entusiastas. Do sal ao açúcar, do
tabaco às emissões de dióxido de carbono ataca-se diária e galhardamente as
chagas sociais sem nunca beliscar a maior delas: porque é que não se erradica a
maçonaria? Numa época em que a crise encerra tantas lojas inocentes, algumas
não deixariam saudades. No mínimo, tomava-se à letra a inclinação da seita pela
privacidade e impedia-se aos seus devotos o desempenho de funções públicas.
Alegadamente, os maçons não querem ser conhecidos. Comprovadamente, nós só
ganhamos em desconhecê-los.[...]
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Alberto Gonçalves in "Diário de Notícias"
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