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É comum a convicção de que o avanço civilizacional depende, antes de tudo, de grandes cabeças, tipo Sócrates (o próprio!), Platão, Euclides, Newton, Einstein e por aí fora. É parcialmente verdade isto, mas em parte pequena. A inteligência individual é justamente celebrada e estimada e constitui critério para selecção de governantes — devia consistir, melhor dizendo —, gestores, economistas, professores, blá, blá, blá.
Mas o homem de Neanderthal, com um cérebro de 1.200 cm3 e aptidão para desenvolver capacidades como ferramenta, a língua e a escrita, finou-se — sumiu, pronto!
Onde se desenvolveu a embrionária civilização que avançou até aos
nossos dias? Nas cidades estados comerciais da Grécia, Itália, Holanda; depois Portugal e Espanha. Aí surgiu a organização
social com repartição de trabalho sectorial a contribuir para a obra colectiva,
mesmo sem a percepção do facto. O marinheiro que transportava um qualquer bem
de longínquas paragens, o intermediário que lhe comprava o bem e vendia ao
comerciante ou ao artesão, o taberneiro que comprava ao comerciante e vendia
aos seus comensais, blá, blá, blá, faziam parte de uma complicada organização
social de que não se apercebiam, nem sequer conheciam o lugar que nela ocupavam —
nem tal era preciso porque a natureza humana é assim. É o que podemos chamar
inteligência colectiva, essa sim, o motor do avanço civilizacional que incorpora
o conhecimento das inteligências individuais na estrutura da prática social.
Hoje, boa parte dos cidadãos não tem ideia clara do papel e
importância da sua actividade profissional no conjunto que é o mundo. Pode
perceber o que lhe é próximo, mas só isso. E, em boa verdade, não interessa.
Necessário é que desempenhe bem a sua tarefa no sector que integra. O resto
não sei com quem é, porque o referido aplica-se a quase todos, senão mesmo a
todos que trabalham, seja no que for, mesmo nas mais altas posições
hierárquicas da sociedade.
A inteligência colectiva é qualidade humana inata, genética, que determinou a nossa evolução e condicionou a sobrevivência
no universo darwiniano. Não foi preciso "inventá-la".
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