Habitualmente, tenho muito cuidado com a leitura porque ouvi dizer que há peças escritas capazes de danificar a integridade dos neurónios e, como não tenho muita robustez neuronal, não me posso dar ao luxo de arriscar certas prosas. Por isso, nunca leio Fernanda Câncio — jamé!
Mas hoje, passou-me uma coisa pela cabeça e li. Pronto: li.
Gostei muito, especialmente quando, falando de Passos
Coelho, chegou à parte que a seguir transcrevo:
E, como vamos
percebendo cada vez melhor, é o retrato de um homem que se decalca de um modelo
tão nosso conhecido, cada vez mais reconhecível no discurso e na obstinação de
destino. Na exaltação da pobreza como redenção, da modéstia como suprema
qualidade, no balanço das contas como religião, Passos apropria-se (se é que
disso tem consciência, mas se não tem é bom que se informe) do cerne do
discurso salazarento. [fim de citação]
Voilá! Esta foi na mouche! O "cerne do discurso
salazarento"! Tal e qual. Quase tão bom como D. Januário Torgal
Ferreira.
Peço desculpa aos leitores pela impertinência ao fazê-lo,
mas quero chamar a atenção para a riqueza da coisa: exaltação da pobreza como
redenção, modéstia como suprema qualidade, balanço das contas públicas como
religião — nem Camilo, digo-vos eu!
Quanto à religião do balanço das contas públicas, o
Zezito era ateu. Se a modéstia como suprema qualidade é pecado, o Dr. Soares tem
a salvação garantida. E no que toca à exaltação da pobreza como redenção, reconheça-se
que no PS não anda muita gente exaltada de facto.
Sobrevivi à leitura e à digestão da peça da Fernandinha,
mas tão cedo não me meto noutra.
.
PS (não confundir com Partido Socialista) - No melhor estilo de Arménio, a Fernandinha também refere que o Primeiro-Ministro "se está
a lixar para as eleições" — são iguais.
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