Todos temos medo—medo de coisas que metem medo justificadamente e muito medo de coisas estúpidas que nos levam a comportamentos cujas consequências, essas sim, deviam fazer medo. Para esclarecer melhor a trapalhada, direi que é hoje comum o receio infundado das vacinas em geral, porque fazem aumentar a probabilidade de diabetes tipo 1, autismo, asma, blá, blá, blá, factos sem evidência científica; burrices em suma.
Porque receiam
mais as pessoas a vacina do que a doença que ela previne? Porque as vacinas
quase fizeram desaparecer a tosse convulsa, a poliomielite, o sarampo e
por aí fora, o medo dessas doenças eclipsou-se porque são consideradas
erradamente extintas e um hipotético risco da vacina domina a cena mental. Tal
e qual.
Quando tive a subida
honra de ser médico militar no ultramar, os soldados não tomavam os comprimidos
para prevenir o paludismo porque acreditavam que eram destinados manhosamente a
diminuir-lhes a líbido e manter a disciplina—mais do que um esteve às portas da
morte com paludismo que poderia ter sido evitado provavelmente.
A isto acresce o facto de os riscos criados
pelo homem serem mais temidos que os naturais. O cidadão conhece-se a si mesmo e,
portanto, desconfia do próximo, está bom de ver. Antes a doença, que é natural,
que a sacanice que, sendo natural, é humana também—pior que péssimo, diz a
nossa privilegiada cabeça.
Somos assim, mas
não é defeito: é feitio, dizem as neurociências—primeiro sentimos e só depois
pensamos, quando pensamos. No estado evolutivo em que nos encontramos, as
conexões dos centros das emoções com os da cognição são mais fortes e funcionam
melhor nesse sentido que no inverso; logo, a inteligência tem papel mais débil
que a emoção no comportamento. E isto não é especulação teórica; são factos
comprovados pela experimentação. O mais possível. Assim, leitor que teve a pachorra de chegar
até aqui, pense, literalmente pela sua saúde. Não se esconda do cachorro atrás do tigre.
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