Se considerarmos os Dez Mandamentos, verificamos que se ocupam de honrar os pais, evitar matar, roubar, ser desonesto, praticar o adultério e coisas semelhantes dirigidas ao meio restrito das 150 pessoas que um antropologista— Robin Dunbar, de seu nome—dizia constituir, em média, o nosso habitat social. Durante grande parte da História, e toda a Pré-História, a moral e a ética dirigiam-se aos vizinhos geográficos e era tudo.
O Juramento de Hipócrates terá sido a primeira
manifestação de alargamento do âmbito de aplicação da ética e da moral, ao
encorajar os médicos a tratar da mesma maneira todos os que necessitavam de
ajuda, independentemente de serem amigos ou inimigos, santos ou pecadores, da
nossa tribo ou da tribo rival. Gradualmente,
a filosofia de Hipócrates estendeu-se a outras profissões e pode dizer-se que
foi através da ética profissional que a moral ultrapassou fronteiras e se
globalizou—ao
contrário da boutade cínica de Bernard Shaw de que as profissões são uma
conspiração contra os leigos.
Mas a ética profissional está em crise. É o médico que
faz ensaios sem consentimento informado dos participantes ou financiados por
interesses inaceitáveis; é o jurista que não trabalha para a sociedade, mas antes
na defesa de grandes empresas com actividades anti-sociais; o arquitecto que
projecta contra o ambiente para servir quem devia ser preso; o economista
que..., blá, blá, blá. A luz que irradiava das corporações profissionais está a
extinguir-se, infelizmente. A globalização da ética e da moral que corria por
conta delas encolhe cada vez mais. O tempo em que os profissionais não eram
simples humanos relacionados com vizinhos geográficos, de que falava Maz Weber,
ameaça chegar ao fim. As profissões estão agora, de facto, a converter-se na
conspiração contra os leigos, de que falava Shaw. Uma lástima.
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