Baptista Bastos
(BB)—não posso deixar de falar nele quase semanalmente porque me fascina—verte
hoje mais algumas ideias novas e originais no "Diário de Notícias", a
não perder. Por exemplo, esta verdadeira joia referente a Passos "Lapin":
[...] Ele
demonstra que não possui ideias de seu: funciona na base de registos nunca
garantidos pelas ciências sociais e, até, negados pela História recente. O
ultraneoliberalismo de que se faz eco encaminha-nos para uma situação
irremediável, de que os últimos acontecimentos são resultado e prova [...].
E mais adiante,
sobre o Governo:
[...] O lado oculto, sombrio e inquietante deste Governo
encontrou, na net, respostas demolidoras, colocando, sob a luz da razão e do
entusiasmo crítico, a sua índole criptofascista [...].
É verdade—grandes
arrincanços estes! É a senda da exploração criativa do pronome possessivo ("não possui ideias de seu"); do
advérbio a lembrar Camões dos "mares nunca dantes navegados" ("registos nunca garantidos pelas ciências sociais"); e,
sobretudo—e aí BB é pródigo—do adjectivo sonante ("lado oculto, sombrio e
inquietante deste Governo"; " respostas demolidoras"; "índole
criptofascista"). E o substantivo
grandiloquente—para usar expressão seguramente do agrado de BB—"ultraneoliberalismo".
Não é liberalismo, não senhor; não é neoliberalismo também; é
ultraneoliberalismo! De rebenta canelas!
Alberto Gonçalves,
notório fascista e colega de BB no "Diário de Notícias", diz que a
oposição acusa o governo de liberalismo e acrescenta: ou, para os semiletrados, de "neoliberalismo". BB vai mais longe que os semiletrados e chega
ao ultraneoliberalismo—humildemente confesso que não sei construir a palavra
que define metade do semiletrado que BB é.
Mas BB põe o dedo
na ferida, quando ainda na mesma crónica diz:
[...] É impressionante a
qualidade literária e jornalística de muitos blogues, e as fraquezas do texto
de quase todos os jornais. A democracia de superfície provoca a aparição de uma
Imprensa superficial. [...]
Tal e qual, digo
eu. Só a democracia de Cuba, da defunta União Soviética, quiçá da Coreia do
Norte, provoca a aparição de imprensa profunda, especialmente com prosadores
inspirados como BB, autêntico Vieira do Século XXI, não se desse a tragédia de
Vieira estar ao serviço da reacção.
.
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