quarta-feira, 26 de setembro de 2012

PROSADOR HÁ SÓ UM, O BB E MAIS NENHUM



Baptista Bastos (BB)—não posso deixar de falar nele quase semanalmente porque me fascina—verte hoje mais algumas ideias novas e originais no "Diário de Notícias", a não perder. Por exemplo, esta verdadeira joia referente a Passos "Lapin":

[...] Ele demonstra que não possui ideias de seu: funciona na base de registos nunca garantidos pelas ciências sociais e, até, negados pela História recente. O ultraneoliberalismo de que se faz eco encaminha-nos para uma situação irremediável, de que os últimos acontecimentos são resultado e prova [...].

E mais adiante, sobre o Governo: 

[...] O lado oculto, sombrio e inquietante deste Governo encontrou, na net, respostas demolidoras, colocando, sob a luz da razão e do entusiasmo crítico, a sua índole criptofascista [...].

É verdade—grandes arrincanços estes! É a senda da exploração criativa do pronome possessivo ("não possui ideias de seu"); do advérbio a lembrar Camões dos "mares nunca dantes navegados" ("registos nunca garantidos pelas ciências sociais"); e, sobretudo—e aí BB é pródigo—do adjectivo sonante ("lado oculto, sombrio e inquietante deste Governo"; " respostas demolidoras"; "índole criptofascista").  E o substantivo grandiloquente—para usar expressão seguramente do agrado de BB—"ultraneoliberalismo". Não é liberalismo, não senhor; não é neoliberalismo também; é ultraneoliberalismo! De rebenta canelas!
Alberto Gonçalves, notório fascista e colega de BB no "Diário de Notícias", diz que a oposição acusa o governo de liberalismo e acrescenta: ou, para os semiletrados, de "neoliberalismo". BB vai mais longe que os semiletrados e chega ao ultraneoliberalismo—humildemente confesso que não sei construir a palavra que define metade do semiletrado que BB é.
Mas BB põe o dedo na ferida, quando ainda na mesma crónica diz: 

[...] É impressionante a qualidade literária e jornalística de muitos blogues, e as fraquezas do texto de quase todos os jornais. A democracia de superfície provoca a aparição de uma Imprensa superficial. [...]

Tal e qual, digo eu. Só a democracia de Cuba, da defunta União Soviética, quiçá da Coreia do Norte, provoca a aparição de imprensa profunda, especialmente com prosadores inspirados como BB, autêntico Vieira do Século XXI, não se desse a tragédia de Vieira estar ao serviço da reacção. 
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