Poggio Bracciolini (1380-1459) foi secretário de 8 papas, pai de 14 filhos da amante e, com 55 anos, namorou uma linda jovem de 18 anos que lhe deu mais 6 filhos. A carreira eclesiástica de Bracciolini coincidiu com o Grande Cisma do Ocidente, em que chegou a haver dois e três papas simultaneamente, e os concílios eram frequentes para tentar restabelecer a união. Por tal motivo, Bracciolini viajou muito pela Europa e, como era um bibliófilo, aproveitou para vasculhar nas bibliotecas de antigos mosteiros onde encontrou obras literárias importantes e esquecidas, que copiou, decifrou e traduziu. E aprendeu muito para escrever sátiras sobre os vícios do clero da época e dos intelectuais seus rivais, o que fez dele um homem temido. Depois de retirado da Cúria, foi chanceler da República de Florença e seu biógrafo.
Mas Bracciolini ficou famoso, ironicamente, depois de tantas proezas sexuais e intelectuais, por um livro de anedotas—Liber Facetiarum, conhecido simplesmente por Facetiae—com 273 itens, a maior parte deles coleccionados num clube de anedotas chamado Bugiale (fábrica de mentirolas), onde os escribas do Vaticano se reuniam para espairecer, no fim de entediantes dias a redigir bulas, encíclicas e por aí fora.
Bacciolini tinha 70 anos quando o Facetiae foi escrito e
o livro, com anedotas de sexo e outras histórias sobre a moral dos homens da
Igreja, não teve grande condenação do Vaticano, provavelmente porque estava
escrito em latim e o povão não lhe metia dente, sendo primordialmente consumido
pela classe clerical, sem corromper a
moral das massas.
Contudo, em 1802, o autor da única biografia de Poggio em
inglês, um tal William Shepherd, manifesta o quanto o choca a conversa de
Bracciolini, "um Secretário Apostólico que gozava da estima do Sumo Pontífice
a publicar histórias que são um ultraje às leis da decência e fazem corar de
vergonha a modesta gente".
A seguir, noutro dia, falarei das frescas histórias de
Poggio Bracciolini. Não perca os próximos episódios.
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