A tal fenómeno—o da evolução biológica—deve acrescentar-se o da evolução cultural, conceito mais recente, inovador e pouco explorado. Há capacidades adquiridas que representaram enorme avanço da espécie—somos capazes de enfiar uma agulha e arremessar objectos, como pedras, setas e lanças, o que o chimpanzé não faz tão bem. Nem sei mesmo se o chimpanzé enfia agulhas.
Cada geração,
ou conjunto de gerações, foi acrescentando capacidades culturais importantes
que culminaram na nossa condição actual, muito mais aptos que chimpanzés, com
seres como Cavaco, Coelho, Arménio, Jerónimo, Tozé e o Zezito. É verdade—autênticos
ápices da evolução, coisa inesperada até para Darwin.
Não se trata de mutação genética, não senhor, nem, ao
contrário do que Lamarck dizia, da incorporação do aprendido no genoma, embora
haja hoje sinais de que por via epigenética—muito
complicado para um blog!—alguma coisa desse tipo possa acontecer. O mais
simples e directo é a lenta selecção dos que absorvem facilmente avanços
culturais, como a prática dos
"afins" da Senhora Doutora Cândida Almeida, a celebração de contratos tipo PPP, as
licenciaturas honoris causa e por aí fora—o fitness darwiniano na máxima e exemplar expressão.
Serve isto para dizer que Portugal não deve queixar-se,
nem consumir tempo e recursos em manifestações, discursos inflamados e protestos
que podem levar ao cárcere. Portugal precisa de ler Darwin porque está lá tudo—do
aeroporto da Ota à ligação Poceirão-Caia. Só não se percebe é
como Darwin sabia que a Ota, o TGV e o PEC4 vinham a caminho. Todos os dias me
interrogo sobre isso. Ganda Darwin!
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A fotografia em cima é de Joseph Hendrich, antropólogo, professor da Universidade de Columbia e especialista em evolução cultural—não tem nada a ver com "afins"; ou, melhor, tem porque os estuda.
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