James O´Donnell, da Universidade de Georgetown, escreveu
um dia esta coisa que devia estar gravada em mármore na entrada das instalações
da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque:
«Nada é mais maravilhoso no ser humano que a capacidade de abstrair e calcular; e de produzir leis, algoritmos e tabelas que
lhe permitem criar maravilhas. Somos a
única espécie que consegue competir com a Mãe Natureza na batalha pelo controlo
do mundo. Podemos perder, é certo, mas é uma esperança, apesar de tudo.
Mas
nada é menos maravilhoso no ser humano que a incapacidade de aprender com as
suas descobertas.»
De génio! Nunca sabemos onde está a chave de parafusos
quando precisamos dela porque não pensámos que ia ser necessária um dia, e procuramos tirar as porcas com os dentes quando temos
uma chave na gaveta ao lado. Tal e qual!
Já antes de Sócrates (o autêntico!), Heráclito de Efeso achava que não se podia
tomar banho duas vezes no mesmo rio (outro conceito de se lhe tirar o chapéu,
embora vítima da erosão do tempo e da falta de reflexão daí decorrente, diga-se
em aparte). Heráclito tinha percebido que o mundo se modifica a cada segundo e,
por isso, o homem está constantemente a viver em meio diferente, a encontrar problemas novos e, por isso, a duvidar das soluções antigas. Muda tudo: as
galáxias afastam-se a velocidade quase fisicamente impossível; a Terra deixou
de ser o centro do mundo e as estrelas já não giram à sua volta em ciclos
anuais; os átomos—por definição indivisíveis—passaram a ser constituídos por partículas
mais pequenas, e estas por outras ainda mais pequenas e por aí fora; e tudo que
sabemos agora é provisório, como o conhecimento de que para desapertar porcas se usa uma chave das ditas.
Até prova em contrário, o conhecimento actual é para
aplicar. A água do rio muda constantemente e, quando se revelar imprópria para
tomar banho, deixamos de lá ir, ou usamos um escafandro. Mas antes disso acontecer, vamos dar uns mergulhos com
o equipamento habitual e as normas de segurança em vigor que servem muito bem.
Não se subestimem conhecimentos enquanto não surge a necessidade de
conhecimentos novos. Depois logo se vê. Os políticos acham que soluções antigas já não servem, por exemplo, e partem para encontros internacionais sem plano nenhum: nem velho, nem novo. O resultado está à vista. Rebabá.
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