domingo, 27 de abril de 2014

SENTIDO E ESQUERDA VOLVER

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Se perguntarmos a alguém quantos sentidos temos, o mais provável é que a resposta seja cinco; isto no caso de alguém não falar no sexto sentido, coisa mais obscurantista que o regime pré 25 barra 4. Na realidade, temos cinco... mais alguns; excepto o sexto.
Lembremos a capacidade de saber se—mesmo com os olhos fechados—no elevador, vamos a subir ou a descer; no comboio, a andar para a frente ou para trás; no barco, a balançar para a esquerda e para a direita e a enjoar, rebabá: é a sensibilidade vestibular do ouvido interno (Por falar em enjoar,veja aqui um vídeo de um castiço chamado Seasick Steve. Ignore a parte final de publicidade ao album). E a sensibilidade para o frio e o quente? É parte da sensibilidade táctil? E o conhecimento da posição das partes do corpo sem olhar para elas? Sabemos se temos a perna cruzada, mesmo a ver uma jogada do Garay—difícil, mas possível—ou a ouvir o Senhor Presidente a discursar (essa mais fácil).
E, mesmo com os sentidos "clássicos", como é? O gosto, por exemplo. Batata frita é batata frita, mas sabe de forma diferente, conforme a temperatura e consistência—mais quente e mole sabe a uma coisa, menos quente e dura sabe a outra; para não falar da batata frita do Restaurante Tavares e da "Pala-Pala", do yogurte líquido e sólido, blá, blá, blá. No gosto, não conta só o efeito químico sobre as papilas linguais, mas também o tacto para a consistência, o olfato chamado retronasal, relacionado com o cheiro que chega às trombas vindo da boca, em oposição ao olfato ortonasal—respeitante aos odores vindos do exterior—que serve para detectar predadores e para os cães da GNR apanharem bandidos. E aqui—não nos cães da GNR—há por vezes coisas contraditórias. Um manjar pode parecer delícia ao olfato ortonasal e ser uma pessegada, incluindo quanto ao olfato retronasal, quando comido. Uma trapalhada à custa da qual vivem janotas auto-intitulados  críticos gastronómicos que, habitualmente, só acham boa a comida dos restaurantes que lhes aconchegam a carteira.
Mas deixemos essa matéria—também obscurantista—e digamos que os sentidos apreciam quase sempre em conjunto—raramente funcionam isolados. Por exemplo, se estamos no cinema com os olhos abertos, parece-nos que as vozes saem da boca dos actores; se os fechamos, as vozes vêm do lado, ou de cima, ou de baixo, dos altifalantes. E certos aromas nos champôs fazem os cabelos parecer mais macios (!); ver a boca de quem fala melhora a audição; a cor das bebidas modifica-lhes o gosto e já vou em mais de 400 palavras e não quero fazer concorrência ao Dr. Soares em matéria de chachadas. FIM
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