Se perguntarmos a alguém quantos sentidos temos, o mais
provável é que a resposta seja cinco; isto no caso de alguém não falar no sexto
sentido, coisa mais obscurantista que o regime pré 25 barra 4. Na realidade, temos
cinco... mais alguns; excepto o sexto.
Lembremos a capacidade de saber se—mesmo com os olhos
fechados—no elevador, vamos a subir ou a descer; no comboio, a andar para a
frente ou para trás; no barco, a balançar para a esquerda e para a direita e a enjoar,
rebabá: é a sensibilidade vestibular do ouvido interno (Por falar em enjoar,veja aqui um vídeo de um castiço chamado Seasick Steve. Ignore a parte final de publicidade ao album). E a sensibilidade para
o frio e o quente? É parte da sensibilidade táctil? E o conhecimento da posição
das partes do corpo sem olhar para elas? Sabemos se temos a perna cruzada,
mesmo a ver uma jogada do Garay—difícil, mas possível—ou a ouvir o Senhor
Presidente a discursar (essa mais fácil).
E, mesmo com os sentidos "clássicos", como é? O
gosto, por exemplo. Batata frita é batata frita, mas sabe de forma diferente,
conforme a temperatura e consistência—mais quente e mole sabe a uma coisa, menos
quente e dura sabe a outra; para não falar da batata frita do Restaurante Tavares
e da "Pala-Pala", do yogurte líquido e sólido, blá, blá, blá. No
gosto, não conta só o efeito químico sobre as papilas linguais, mas também o
tacto para a consistência, o olfato chamado retronasal, relacionado com o
cheiro que chega às trombas vindo da boca, em oposição ao olfato ortonasal—respeitante aos odores vindos do exterior—que serve para detectar predadores e para os cães
da GNR apanharem bandidos. E aqui—não nos cães da GNR—há por vezes coisas
contraditórias. Um manjar pode parecer delícia ao olfato ortonasal e ser uma
pessegada, incluindo quanto ao olfato retronasal, quando comido. Uma trapalhada
à custa da qual vivem janotas auto-intitulados
críticos gastronómicos que, habitualmente, só acham boa a comida dos restaurantes
que lhes aconchegam a carteira.
Mas deixemos essa matéria—também obscurantista—e digamos
que os sentidos apreciam quase sempre em conjunto—raramente funcionam isolados.
Por exemplo, se estamos no cinema com os olhos abertos, parece-nos que as vozes
saem da boca dos actores; se os fechamos, as vozes vêm do lado, ou de cima, ou
de baixo, dos altifalantes. E certos aromas nos champôs fazem os cabelos
parecer mais macios (!); ver a boca de quem fala melhora a audição; a cor das bebidas modifica-lhes o gosto e já
vou em mais de 400 palavras e não quero fazer concorrência ao Dr. Soares em
matéria de chachadas. FIM
.
Sem comentários:
Enviar um comentário