Quando foi construído em Nova Iorque, em 1977, o edifício do Citicorp Center era o sétimo arranha-céus mais alto do mundo. Pela estatura e pelo cimo recortado em ângulo de 45 graus, é ainda facilmente identificado na cidade.
Porque no local existia a Igreja Luterana de S.Pedro, o construtor não foi autorizado a ocupar o espaço desta, nem a prejudicar a sua visibilidade. O arquitecto Hugh Stubbins e o engenheiro William Le Messurier tiveram que arranjar solução que consistiu em colocar o edifício sobre pilares com altura equivalente a nove andares e, a partir daí, lançar mais 50 pisos, ou coisa parecida. Como a Igreja fica num dos ângulos do prédio, os pilares não puderam ser colocados nos cantos deste. Le Messurier, um dia quando almoçava, teve a ideia de colocar os pilares, não nos cantos, mas no meio dos lados da construção. Fez um "boneco" num guardanapo de papel (ver a Fig. 1) e meteu mãos à obra. Para aquela cangalhada funcionar, foi preciso criar um "esqueleto" inovador em V para cada oito ou nove andares (visível no interior), um sistema na base tipo amortecedor e rebabá—uma trapalhada colossal.
Correu tudo muito bem e a obra foi inaugurada.
Passa um ano e eis que os colaboradores de Le Messurier recebem um telefonema duma estudante de Arquitectura a dizer que o edifício—com os pilares naquela posição e aquela estrutura—resistia bem a vento sobre as superfícies planas, mas muito mal a vento sobre os ângulos. Contas para aqui, contas para ali, cálculos e mais cálculos e a estudante tinha razão. Em 16 anos havia grande probabilidade de soprar vento capaz de arrasar toda aquela pessegada.
Le Messurier podia suicidar-se, cagar naquilo, ou fazer qualquer coisa. Decidiu-se pela última e organizou em segredo—sem ao menos dar conhecimento do facto a quem lá trabalhava—um esquema de protecção civil para o caso de acontecer uma desgraça, com a colaboração da Cruz Vermelha, polícia, três serviços de meteorologia privados a trabalhar 24 horas por dia e obras de melhoria da estrutura feitas durante a noite e suspensas de manhã, antes do pessoal que lá trabalhava chegar. Foi um ano de sufoco e a história só foi conhecida quando Joe Morgenstern, jornalista da "The New Yorker", a ouviu e chimpou no papel.
A aluna de Arquitectura, de seu nome Diane Hartley (a fotografia é actual), não sabia que o seu telefonema tinha desencadeado aquela balbúrdia e só soube ao ver um documentário sobre a matéria na BBC. Teve assim conhecimento de quanto a sua tese de licenciatura tinha atrapalhado Manhattam. O vídeo em baixo é parte do documentário da BBC; e, em minha opinião, Le Messurier foi um sacana.
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