domingo, 27 de abril de 2014

PARVOS PEDANTES E PAROLOS

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Se há coisa que me "encanita" é a teoria de que só as coisas feitas de determinada maneira estão certas, porque há regras estabelecidas. Quando era bastante mais novo, fumei por cachimbos de que ainda tenho pequena colecção. Gostava, fazendo-o  e tratando deles da maneira que me sabia e parecia melhor. Não era raro aparecer um "papagaio" a perorar que o apreciadores de cachimbo diziam dever-se fazer assim ou assado. Normalmente, respondia que também eu era apreciador e a opinião dos outros valia tanto como a minha pelo que cagava nela. Também tomo habitualmente o café, de que gosto muito, com bastante adoçante. Tenho uma colega que me dizia frequentemente ser o adoçante, ou o açúcar, coisa para estragar o café porque os apreciadores de café rebabá. Nunca lhe disse cagar em tal opinião, mas estive várias vezes para fazê-lo e não era mal feito. O mesmo acontece com um ror de outras coisas, como bebidas, comidas, copos, papel higiénico, brilhantina para o cabelo e pomada para os sapatos.
Vem isto a propósito de uma prosa que li há minutos no site "Aeon" sobre o café e de que traduzo o seguinte trecho:

[...] No Reino Unido, mais de 15 restaurantes com estrelas Michelin usam "Nespresso", líder do mercado do sistema de cápsulas, para fazer o café—incluindo o "Heston Blumenthal’s Fat Duck" em Berkshire, e o "The Ledbury" em Londres. Em França, a "Nespresso" fornece mais de 100 restaurantes com estrelas Michelin, incluindo o lendário "L’Arpège" em Paris. Mesmo na Itália, onde a primeira máquina expresso foi patenteada em 1884, mais de 20 restaurantes com estrelas usam o novo sistema de cápsulas e muitos outros em todo o mundo o fazem, incluindo as dos rivais "Kimbo", "Lavazza" e "Segafredo".  O "expresso carrega no botão" começou como produto doméstico, forma caseira de simular o expresso, sem lixo e complicação. Mas, nos anos recentes, começou lentamente a tomar conta dos restaurantes do mundo.
Pode não se cuidar muito do estilo de jantar ou tomar café. Mas, provavelmente, valoriza-se a "performance" do artesão e acredita-se que a comida é uma dos domínios  cada vez mais restritos onde a criatividade e a arte humana  não pode ser melhorada pela produção em massa e mecanizada. Sendo assim, devemos preocupar-nos com o crescente desafio que o café em cápsulas representa. [...]

O autor deste naco de prosa chama-se Julian Baggini e diz ser escritor, fundador do "The Philosophers’ Magazine" e autor do livro " The Virtues of the Table", publicado em Janeiro deste ano. Adicionalmente—digo eu—deve ser parvo. Também deve saber como se limpam cachimbos, como se carregam—idealmente com barbas de milho, talvez—quantas vezes por minuto se deve chupar o fumo, como devem ser encerados com sebo do próprio nariz enquanto estão quentes—o nariz do porteiro não serve—e rebabá. E o bom café  deve ser o "de saco", criativamente feito com uma meia usada por soldado de Infantariaidealmente antes de ser lavadazero açúcar ou adoçante—apenas pau de Cabinda!
O café da "Nespresso", digo eu agora ao senhor Baggini (que podia mudar de nome), é o melhor café do mundo. Fique-se com esta e embrulhe porque vai de um apreciador de café.
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