O mundo vivo avança e talvez melhore,—de acordo com o
darwinismo—em consequência de dois processos: a mutação genética que cria seres
com propriedades novas a partir dos velhos, e a selecção, ao eliminar—desses—os
menos aptos e preservar os mais capazes. É simples e fácil. A luta pela
sobrevivência é uma componente essencial e individual: os menos dotados vão
sendo eliminados, um a um, pelo meio antes de se reproduzirem, até à extinção
total da classe, espécie, grupo, ou o que quisermos ou devemos chamar-lhe—não
interessa isso.
Contudo, há um terceiro aspecto, que não sei se Darwin
contemplou, previu, ou suspeitou, e também faz parte deste filme: a
colaboração. Hoje, quando nos levantamos
e antes de ir trabalhar, comemos o pequeno almoço, fazemos a barba—incluindo as
mulheres que a têm—vestimo-nos, tomamos um transporte e por aí fora. O leite
foi produzido pelas vacas do senhor X de Vale de Cambra, que sobrevive tratando
delas, o café foi cultivado na Colômbia pelo senhor Y, que sobrevive blá, blá,
blá, o açúcar foi feito em Cuba pelo senhor Castro, as lâminas de barba pelo
senhor Gillette, e por aí fora. Não fora o senhor X, o senhor Y, o senhor
Castro, o senhor Gillette e rebabá, e se não comprássemos as coisas deles, era muito complicado para eles e para nós—suspeito
que Darwin não pensou nisto porque estava absorvido com minhocas, mamutes e cágados.
Mas a inteligência e a competência colectiva são fundamentais para a
sobrevivência do macaco nu e não só: também da formiga, da abelha, do elefante
e de um ror de outros animais, incluindo políticos e a família de Kim Jong-un.
Pertanto, como diria Jorge Jesus, as coisas são ainda
mais complicadas do que falava Darwin. Se pensas que é só ter bons jigadores
para ganhar, continuando a citar, estás enganado. É preciso treinares e saberes
pôr o Cardoso na baliza e o Artur a ponta-de-lança, se fora caso disso. Caso contrário, não cheguemos a campeões.
Darwin, infelizmente, não teve o privilégio de
conhecer Jesus—o Jorge, naturalmente—e deixou algumas lacunas na Teoria da Evolução. Aliás, diz-se que era do Sporting e está tudo explicado—só pensava em lagartos. Um nabo!
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