Sabe o que é o Spritz? Provavelmente, sabe porque é uma
pessoa informada. Eu não sabia, porque não sou uma pessoa informada; mas fiquei
hoje a saber. O Spritz, que está aí na imagem de cima, é um aparelho para ler
textos cujas palavras de cada frase aparecem uma a uma, isoladas no ecrã, com
ritmo pré-determinado. Por exemplo: "Coelho" "é" "um" "artolas"
Qual a vantagem?—perguntar-se-á.
A vantagem é que, teoricamente, ao ler, pode ter-se o olhar fixo sempre no
mesmo ponto, não é necessário mexer os olhos ou a cabeça e o leitor cansa-se e distrai-se
menos, lendo mais rapidamente.
Bem pensado, não? Há opiniões. Ou melhor: depende. Explico
porquê.
Imagine que está a ler um livro e, a páginas tantas, vem
esta frase: "O homem bebia, enquanto a água límpida e fria transbordava do
lavatório". Se ler isto como está, já dá lugar a mal-entendidos. Seguramente,
volta atrás para reler. Se lê no Spritz fica com os olhos em bico. O homem pode estar a beber uma cerveja, enquanto a água
corre do lavatório; ou pode estar a beber essa água. É claro que este é um
exemplo extremo e a frase está fora de qualquer contexto. Mas coisas
aproximadas acontecem em todos os textos e é necessário retroceder. Agora
imagine que não pode voltar atrás. Lê mais depressa, mas percebe pior. Ou volta
atrás e a rapidez vai-se. Isto é, se o texto é límpido e cristalino, no estilo
do Dr. Soares, chega-se mais depressa ao fim e é um alívio. Mas se é o
professor Adriano Moreira a escrever, perde mais tempo a voltar atrás e a
leitura fica ainda mais demorada que no "Diário de Notícias" em papel.
Não tenho opinião, mas gostava de experimentar. Para quem
gosta do livro objecto, da obra encadernada, do cheiro a tinta, do toque do
papel e rebabá, o Spritz é um crime de lesa majestade. Deus perdoe a quem teve tal ideia sacrílega!
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