Um senhor chamado Fernando Belo, filósofo, escreve hoje
no "Público" em defesa da homeopatia, fazendo considerações sem ponta
por onde se pegue. A páginas tantas escreve esta coisa obscura:
O que escandaliza o
filósofo é a maneira não científica de abordar a questão (a detracção da homeopatia). Embora talvez por
nenhum dos contendores ser médico, impressiona a inexistência de qualquer
preocupação com os eventuais efeitos curativos da homeopatia: não só não lhes
interessa, como negam que sejam devidos à medicamentação; não se pode argumentar
de um só caso, dizem, mas sem pensarem nos outros milhares que há, que pode
haver, que um cientista a sério ponderará como pondo problema, ainda que não seja
ciência; aqui, isso fica excluído, é uma “falsa” ciência.
Inesperada e ironicamente, Fernando Belo considera
que os detractores da homeopatia o fazem de forma "não científica"! E
porquê? Talvez porque não sejam médicos, diz. Mas o que impressiona mais Fernando Belo é a "inexistência
de qualquer preocupação com os eventuais efeitos curativos da homeopatia",
"não de casos isolados, mas de outros milhares que há, que um cientista a
sério ponderará como pondo problema, ainda que não seja ciência".
Com todo o respeito pela opinião do filósofo,
começo por lembrar que a população da Terra é de 7 mil milhões de almas e ele
fala de alguns milhares dispersos por aqui e por ali que terão melhorado com a
homeopatia, o que não significa nada. Belo não tem a mínima noção do que é
ciência e método científico e não consegue sequer explicar-nos se a homeopatia
é ou não ciência em sua opinião.
Cita depois um exemplo com doentes mentais—mal escolhido
por serem os mais sensíveis ao efeito placebo—e conta também esta história, que
é uma ternura: Vi uma familiar que começava a perder cabelo largar as
injecções sem efeito de um dermatologista por uma homeopatia que lhe recuperou
o cabelo em poucos meses.
Belo não tem a mais pálida ideia de qual era o problema
da familiar, mas não hesita em usar um caso isolado e mal esclarecido de alopecia para
explicar a rectidão de ter "fé" na homeopatia. No mínimo, ridículo.
Para encerrar com chave de ouro, cita Benveniste, o
francês que falava muito duma coisa "metafísica" chamada memória da
água e que publicou na revista "Nature" um trabalho sobre isso,
trabalho que acabou por se verificar ter sido "manipulado" e lhe
valeu a demissão do INSERM francês.
Um mestre meu costumava dizer que o papel aguenta tudo. O papel também aguenta esta prosa, claro! Mas dela não se aproveita nada, a não ser o exemplo disso
mesmo: uma prosa de que não se aproveita nada.
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