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O Papa disse bombasticamente—até que enfim!—que os
católicos não devem procriar como coelhos. Os crentes são seres com consciência e,
ao contrário dos coelhos, conhecem o resultado de ter mais filhos do que podem
criar. Se têm inteligência, é para ser usada e, por isso, o planeamento
familiar é mais que legítimo. Até aqui, não há nada de novo.
O problema põe-se no modo de fazer o controlo da
natalidade, pois fala-se de métodos anticoncepcionais naturais e artificiais.
Salvo o devido respeito, a distinção é bizantina. Isto é, qual a diferença
entre estudar a fisiologia da fertilidade feminina, servindo-nos disso para evitar
a concepção, e estudar os ciclos hormonais e, através da administração de
hormonas, atingir o mesmo objectivo? Nenhum dos dois procedimentos é
natural—natural é o comportamento dos coelhos.
Dir-se-á que o primeiro é mais "fisiológico"
porque não implica medicação. Talvez. Mas isso é um problema exclusivamente
médico, relacionado com avaliações de custo/benefício e custo/eficácia. A
primeira relação—do custo/benefício—será de considerar em raríssimos casos; a
segunda não tem discussão. E quando falo em custo, refiro-me a custos na área
dos efeitos farmacológicos adversos e não a custos financeiros. Quanto aos métodos físicos, como o preservativo e outros, não se percebe a reserva—não
estamos a falar de interrupção da gravidez, ou qualquer outra prática que
implique destruição da vida depois de concebida.
A questão da anticoncepção levanta-se em termos filosóficos
ou teológicos—não sei bem qual deles, mas anda por aí.
Do ponto de vista de um ser religioso, parece que, se
Deus deu a inteligência ao homem, é de esperar que ele a use, embora de forma
responsável; e não se vê onde está a irresponsabilidade dos chamados métodos
não naturais.
Para ser franco, não entendo certas subtilezas das
religiões.
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