Leio nos jornais, com alguma irritação, que o Dr. António
Arnault foi a Évora visitar o Zezito, aproveitando a deslocação para lhe
oferecer o livro de que é autor—"Cavalos de Vento"—enviado anteriormente por correio e devolvido pelos serviços prisionais. O Dr. Arnault
indignou-se, parece que sem razão, e na altura um porta-voz dos guardas terá
explicado que Zezito havia sido informado da decisão de recusar a encomenda e até
não se opôs.
O que me irrita? Zezito atravessa tempos difíceis com
esta prisão e, naturalmente, pena com isso, mesmo sem ainda ter sido penado.
Tudo que possa fazer-se para aliviar tal pena—a corrente, claro—deve ser feito
e tudo que a agrave é pura maldade.
A cadeia já havia libertado Zezito—passe a impropriedade
do verbo—do castigo de ler o livro do Dr. Arnault; mas o Dr. Arnault insiste e
prega-lhe com o livro nas mãos—pena suplementar, não prevista no Código do
Processo Penal, suspeito.
Agora o detido terá que dedicar tempo à leitura dos
ensaios, contos e poesia do "Pai do Serviço Nacional de Saúde", desconcentrando-se
da redacção de laudos para os media sobre a natureza política da sua detenção.
No meio de tudo isto, fica o mais importante: a
informação de que o Dr. Arnault, "histórico do Partido Socialista",
escreve poesia, contos e ensaios! Fiquei banzado. Sobretudo inquieto—espero que não me ofereça um exemplar.
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