segunda-feira, 13 de julho de 2015

FALO, LOGO PENSO

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Uma boa pergunta, por exemplo, é esta: Como era o pensamento antes do homem criar a linguagem?
Seguramente, era diferente mas nada faz crer que não existisse, até bem desenvolvido. Contudo, há actividades intelectuais inexequíveis sem linguagem; por exemplo escrever, ou explicar o teorema de Pitágoras. Planear uma sequência de actividades, como compras, ou um trajecto a seguir para chegar a determinado lugar, não carece de linguagem pois pode ser feito mediante representação mental de imagens—suspeito até que é sempre assim.
O pensamento que exige uso de linguagem, ou que resulta melhor com ela, é o abstracto, ou seja, o que envolve conceitos sem base material; por exemplo, ideias como esperança, pessimismo, admiração, vontade, paciência, resignação, frustração, saudade, etc. Não que não se possa pensar sobre uma ou duas destas ideias sem linguagem. Mas é muito difícil fazer um raciocínio em que haja relação e interdependência de várias ideias abstractas. Por exemplo: "Eu tinha esperança de me resignar e fazer-lhe a vontade, mas perdi a paciência, o que me deixou frustrado". Quem consegue pensar uma trapalhada destas sem linguagem? Nem o Nóvoa!
Portanto, sem linguagem ficamos mal. É provável que seja esse o caso dos animais. Pensarão até onde a associação de imagens permite. O cão que vê o dono com a trela na mão fica contente porque associa essa imagem à da ida ao jardim, à dos cagalhões de que vai aliviar-se, à da brincadeira de ir buscar os paus que o dono atira para longe, ao encontro dos seus irmãos caninos e por aí fora. Associação de imagens, mais nada. E, muito provavelmente, assim se explicam outros comportamentos animais que parecem traduzir capacidade de raciocínio abstracto, como o aparente pesar depois da morte do dono. Não sei como funciona o cérebro canino nesses casos, mas o mecanismo deve ser simples.
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