segunda-feira, 6 de julho de 2015

LIVRO A METRO

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Tempos houve em que o volume de livros publicados permitia a sua leitura integral por percentagem razoável de público. Além do seu escasso número, o preenchimento das horas de lazer não tinha muitas alternativas e a leitura era quase obrigatória. Hoje, a oferta de modalidades para ocupar tempo livre em casa de cada um cresceu de forma exponencial. A rádio, a televisão, a Net, os engenhos de reprodução de música e filmes, o telefone gratuito ou quase, e por aí fora, tiraram enorme importância ao livro. É um facto inegável, embora esteja a adivinhar alguns a torcer o nariz ao que opino.
Mas o que acho mais extraordinário, no contexto referido, é o número de livros que são editados no tempo presente. Passo diariamente na montra duma livraria e pasmo com a quantidade de edições que ali vejo, em constante renovação e tratando de temas—a avaliar pelos títulos—com interesse apenas para pequenos grupos de eventuais compradores. Não falo do livro do Zezito, lido provavelmente por ele e pela empregada doméstica da senhora sua mãe, mas de coisas do género da fuga dos chatos para o Egipto e similares.
Partindo do princípio que os editores não estão vocacionados para perder dinheiro, pergunto como se orienta a sua actividade e quem compra a maior parte daquelas toneladas de papel que enchem montras e estantes. Uma ida à FNAC é de deixar atáxico um pacóvio como eu.
Dizem-me, por exemplo, que na Alemanha, em 2009, cerca de 36 milhões de pessoas compraram 11 livros por cabeça em média, o que representa quase 400 milhões de livros num ano. A ser assim, metade da população alemã lê um livro por mês. Será verdade? Provavelmente não é—não lê!
A mesma fonte estima que, em 2010, só 6,87 milhões de alemães abriram uma vez um livro por semana. A maior parte não passará do segundo capítulo, e é um pau; quando não se limita a folhear o livro e ler aleatoriamente trecho aqui, trecho ali.
A convicção de muitos analistas é que o livro passou a constituir objecto decorativo com grande simbolismo cultural, coisa para oferecer no Natal e aniversários, capaz de dar boa imagem a quem o oferece, enaltecer o prendado e resolver o difícil problema de escolher uma prenda. Com a vantagem de não murchar em poucos dias como as flores.
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