sexta-feira, 10 de julho de 2015

SER OU NÃO SER

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Antonio Gallo,  professor reformado de literatura e linguística em Itália, bibliomaníaco e intelectual com graça, pergunta: "Qual o significado da vida?"
Responde, citando alguém não identificado, presumivelmente ele próprio, que a vida é uma situação transmitida sexualmente com 100% de taxa de mortalidade. Não está mal, mas a consideração apenas introduz o tema e carece de aprofundamento.
Avança depois e acrescenta: a única coisa certa é que tempo houve durante  o qual não éramos, agora somos, mas deixaremos de ser outra vez.  Está melhor. Mas quando se espera mais, Gallo deixa o espaço aos leitores.
Recordo-me de alguém dizer não recear a morte porque já tinha estado milhões de anos sem existir e não se tinha dado mal com isso. Na realidade, como todos os seres vivos, seja a alforreca, o cágado, ou o bacilo de Koch, somos um arranjo de moléculas iguais às do mar, do ar, ou do Estádio de Alvalade—parece mentira! Diferimos deles apenas porque nos reproduzimos, transmitindo traços da nossa organização, genialmente encriptada no genoma, às gerações seguintes.
Como surgiu esta organização da matéria chamada vida ninguém sabe. Quem tem fé sabe, ou acredita saber. Eventualmente, assim nasceu a fé, depois cultivada no caldo da cultura, sendo o receio da morte como fim o seu principal nutriente. O certo, de facto, é apenas isto: não éramos, agora somos, mas vamos deixar de ser um dia. No actual estado do nosso conhecimento não há mais certezas. 
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