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Antonio Gallo, professor reformado
de literatura e linguística em Itália, bibliomaníaco e intelectual com graça, pergunta: "Qual o
significado da vida?"
Responde, citando alguém não identificado, presumivelmente
ele próprio, que a vida é uma situação transmitida sexualmente com 100% de taxa
de mortalidade. Não está mal, mas a consideração apenas introduz o tema e carece
de aprofundamento.
Avança depois e acrescenta: a única coisa certa é
que tempo houve durante o qual não
éramos, agora somos, mas deixaremos de ser outra vez. Está melhor. Mas quando se espera mais, Gallo deixa
o espaço aos leitores.
Recordo-me de alguém dizer não recear a morte
porque já tinha estado milhões de anos sem existir e não se tinha dado mal com isso. Na realidade, como todos os seres vivos, seja a alforreca, o
cágado, ou o bacilo de Koch, somos um arranjo de moléculas iguais às do mar, do
ar, ou do Estádio de Alvalade—parece mentira! Diferimos deles apenas porque nos
reproduzimos, transmitindo traços da nossa organização, genialmente encriptada
no genoma, às gerações seguintes.
Como surgiu esta organização da matéria chamada
vida ninguém sabe. Quem tem fé sabe, ou acredita saber. Eventualmente,
assim nasceu a fé, depois cultivada no caldo da cultura, sendo o receio da
morte como fim o seu principal nutriente. O certo, de facto, é apenas isto: não éramos, agora somos, mas vamos deixar de ser um dia. No actual estado do nosso conhecimento não há mais certezas.
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