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Dizia Darwin que somos aquilo
que o meio ambiente e a luta pela sobrevivência fez de nós. E Einstein ensinou que
tudo é relativo—falava de fenómenos da Física mas, em boa verdade, a norma
aplica-se a quase tudo, incluindo nós próprios. Tais circunstâncias condicionam
a sociedade e por isso esta vive em permanente evolução. Evolução que se
comporta como o corpo sobre o qual actua uma força contínua e, por isso, adquire aceleração
permanente. O perfil dos preconceitos, valores e julgamentos sociais tem cada
vez maior plasticidade e mutabilidade mais rápida.
Há menos de um século, ocorreram
duas guerras planetárias em que o homem se comportou de forma desumana inaceitável
à luz dos padrões actuais; e o racismo, o anti-semitismo, o sexismo, o
colonialismo, a homofobia eram aceites, até esperados do cidadão. Se num século
se assistiu ao que se viu em termos de filosofia social, é de esperar que o
século seguinte, que vivemos agora, traga muito mais. Daqui a 100
anos as pessoas olharão para o nosso comportamento actual e abanarão incrédulas
a cabeça.
Provavelmente o "ele"
e o "ela" para distinguir sexos terão chegado ao fim e haverá apenas
um único pronome para o feminino e o masculino—"elo", ou coisa
parecida, extensível, naturalmente a animais e coisas, como acontece já em
muitos casos no inglês.
Será mal visto, para não
dizer pior, comer seres vivos, nossos irmãos na Criação, sejam animais ou
plantas, com direito a respeito pela sua integridade física. A alimentação
sintética perfila-se no horizonte e isso da creofagia e fitofagia constituirá prática
de seres irracionais.
A privacidade será obscurantismo,
vista como meio privilegiado de encobrir o crime e a hipocrisia. O pseudónimo
configurará ofensa à sociedade, os segredos bancário e fiscal afronta maior
ainda, e as listas "VIP" impensáveis—tudo estará escarrapachado na
Internet. O uso de fato de banho na praia ou piscina será considerado tão
estúpido como tomar hoje o duche matinal de fato, gravata e chapéu.
As fugas de água na rede
pública e outras formas de desperdício terão a gravidade que tem hoje a
hemorragia do teu irmão. E quem prime o "gatilho" do autoclismo
carregado com água potável será comparado ao que dá o tiro no último elefante
do planeta. Rebabá, rebabá.
Não sei qual a sua idade,
leitor que me lê neste preciso momento, caso alguém ainda me leia. Mas, se o
seu horizonte de vida está distante, prepare-se para dias complicados. Os que,
como eu, já viveram bastante, estão livres do que o espera—já deram contribuição generosa para o peditório.
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