"Cientificamente provado": eis uma das expressões mais perigosas da idade contemporânea. Perigosa porque encerra a ideia de infalibilidade, imutabilidade, incontestabilidade. E, se há actividades que se reconheçam como falíveis, abertas à mudança e à contestação, a ciência está na linha da frente porque é essa a sua natureza.
Einstein dizia que, se soubesse o que estava a fazer quando investigava, não podia chamar a isso investigação. E todo o fruto dessa investigação é provisório porque só vale até se demonstrar que está errado. É este espírito que faz da ciência método intelectual ímpar e superior e, paradoxalmente, lhe dá credibilidade.
O "cientificamente provado", em
rigor, não existe. O que há é o cientificamente aceite, ou seja, o que não tem melhor
interpretação e permite ser usado sem, tanto quanto se sabe, levar ao erro. Mas
mostra a História que mil vezes foi preciso aceitar novas visões que tudo mudaram e
atiraram o "cientificamente provado" para o caixote do lixo.
Por exemplo, em Medicina, "a boa prática" não é
"a prática". É apenas a que recebe mais acordo, a mais consensual. A
sangria já foi boa prática, tal como a piretoterapia. E ainda usamos hoje
terapêuticas cujo fundamento é discutível e o futuro poderá revelar serem tão "de
carregar pela boca" como a sangria. Alguns dos medicamentos usados em Oncologia,
mesmo na Dermatologia, têm relação risco/benefício a roçar o temerário e a sua
administração não ficará melhor no retrato.
"Cientificamente provado" é expressão que todos
usamos e não devíamos fazê-lo. É conceito de "banha de cobra", de marketing rasca, de enganador de
incautos, de militante da cultura de meia tigela, de professor Karamba, de
Miguel Relvas. Diga-se, em sua substituição, "aceite pela ciência",
que fica melhor.
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