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O que pensa a Maria do Big Bang e da inflação cósmica contínua? Toda a tarde lhe perguntei, mas não respondeu — sensata!
Um dia, John Updike, o famoso romancista americano, falou
assim numa entrevista — depois de traduzido por mim, tentando não o atraiçoar:
[...] Passar do nada a "alguma coisa" exige tempo e o tempo não existia antes de "alguma coisa". As perguntas sobre isso não fazem sentido e devíamos deixar de as fazer. Está para além da nossa capacidade responder. Ponham-se na posição dum cão. O cão reage a estímulos, tem um pouco de intuição, olha-nos com olhos onde há alguma forma de inteligência e, contudo, o cão não deve perceber muitas das coisas que vê as pessoas fazerem. Não deve ter nenhuma ideia de como inventaram o motor de combustão interna. Então, precisamos é imaginar que somos cães e há factos para lá da nossa possibilidade de compreender. Não tenho a certeza de que este é o meu ponto de vista definitivo, mas é a maneira de dizer que o mistério de ser é um mistério permanente, pelo menos no estado actual do cérebro humano. Tenho até dificuldade em acreditar — e isto vai ofender pessoas — a explicação científica padrão de como o universo se formou e cresceu a partir de quase nada. A noção deste planeta e todas as estrelas que vemos, e muitos milhares de vezes mais de outras, tudo concentrado num ponto do tamanho, digamos, dum bago de uva! Como, pergunto, podia isso ser possível?
Então, quando pensamos nisso, nós racionalistas — e
somos todos racionalistas — aceitamos proposições sobre o princípio do universo que
nos espantam mais que os milagres bíblicos. [...]
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Updike não era físico atómico, mas tinha direito a ter opinião. É preciso dizer claramente que a teoria do Big Bang e a da inflação contínua do universo são teorias. Estão apoiadas em observações actuais e passadas, e frequentemente surgem novos factos explicáveis por tais teorias, com suporte matemático sólido. Têm lacunas ainda, mas não se lhes conhecem erros capazes de as invalidar. A probabilidade de estarem certas é enorme. Acredito nelas. Mas isso não me tira o direito, tal como não tirava a Updike, de as achar tão difíceis de aceitar como os milagres bíblicos.
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