Isto é, aquilo que vejo naqueles móveis é diferente para essa alma e, ironicamente, também para mim noutras circunstâncias — por exemplo, se me levantar e colocar do outro lado da sala, o brilho da mesa é diferente e até a cor muda. E, se estiver num topo, esse lado é maior que o oposto e vice-versa. E, se observar o tampo com um microscópio, a mesa não é lisa como parecia, mas bastante irregular, cheia de sulcos e buracos. Está boa esta! Afinal, como é a mesa? Em boa verdade, ninguém sabe.
A conversa pode parecer de loucos, mas é o resumo duma pequena
parte do livro de Bertrand Russel "The Problems of Philosophy". A
ciência explica isto tudo com as leis da reflexão da luz, da perspectiva, da
ampliação dos objectos, mas não diz o que na realidade é a realidade. Não diz porque não sabe, nem ninguém sabe —
então há filósofos, no caso filósofos
científicos como Russel era.
Escreveu ele: Há algum conhecimento no mundo tão certo
que nenhum homem inteligente possa duvidar dele? A resposta parece fácil, mas
não é —
não há verdades indiscutíveis, a não ser, ironicamente, a verdade de que tudo é discutível. Russel
morreu em 1970, muito antes de Robert Lanza aparecer com a Teoria do Biocentrismo,
em 2007. Lanza não parece ter dúvidas: objectivamente, não há essa coisa
chamada realidade — o que existe é uma multidão de realidades subjectivas que
habitam nos encéfalos dos seres vivos e com que aprendemos a viver e chegámos a
acordo, apesar da minha realidade ser diferente da tua e a tua da deles. O que chamamos vermelho pode ser uma percepção
diferente para cada um, mas convencionámos que a percepção a que chamas vermelho e que nem sei como é,
também eu chamo vermelho, apesar de poder ser diferente.
Estendendo a massa até ao limite, podemos chegar ao ponto de dizer
que tudo é virtual, ou seja, o mundo só existe na nossa consciência. É engraçada
a ideia, mas só aconselhável a quem não tiver nada para fazer — caso contrário,
podem começar a surgir problemas no trabalho com os chefes, pouco sensíveis a
esta especulações: uns artolas!
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