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As imagens do conjunto mostrado em cima são desenhos de
Marta Wengorovius expostos em Lisboa neste momento e fotografados por mim esta
manhã. Publico-os porque constituem exemplo do que é arte pindérica promovida. A forma é esteticamente zero e o conteúdo,
alegadamente o importante, é dez graus abaixo. Tudo isto embrulhado em retórica redonda e sem
ponta por onde pegar, como se comprova na leitura do texto que apresenta a
mostra, elaborado por João Pinharanda ― um amigo a fazer o frete, ou um
cabotino; provavelmente ambas as coisas.
Obras sem presente nem futuro que a selecção natural do
senso e do meio eliminarão mais depressa que o homem de Neanderthal, ficando na história da arte como desconhecidos buracos negros.
É assim o texto de Pinharanda:
A artista
apresenta um conjunto de grandes desenhos de absoluta simplicidade formal e
cromática. Cada um formula um pensamento para um facto ou para uma acção que
nos situa em espaços concretos, nos recorda momentos determinados, nos incita a
fazer coisas ou a seguir ideias marcadas por uma referência maior: a figura, o
pensamento e a acção de Friedrich Nietzsche.
Traçando linhas esquemáticas sobre o branco das folhas e
apresentando pequenos apontamentos de texto indicativos ou explicativos, a
artista não se serve só da dimensão de Nietzsche como filósofo maior do mundo
contemporâneo; Marta Wengorovius aproxima-se também do homem comum que nele
existia, através da exploração das suas atitudes, hábitos e obsessões face à
ideia de saúde e de doença — questão
que, como sabemos, ocupou intensamente parte da sua vida, no final afligida por
doença mais mental do que física.
Toda a obra de Marta Wengorovius integra uma visão
totalizadora da arte e da vida onde os meios de interpretação da realidade que
caracterizam a arte (mas também qualquer pensamento, com notável presença no
pensamento filosófico) e a realidade tendem a coexistir. Há na sua atitude como
artista, uma eufórica crença na acção comum, e um dos modos mais evidentes de
evidenciar isso é a actividade performativa para a qual mobiliza os seus espectadores.
Para nós, nunca se trata meramente de visitar as suas exposições, mas de
participar em acções que concretizam as suas intenções artísticas: refeições
comuns, caminhadas contemplativas, discussões e palestras que nas salas de
galerias e museus (através de pinturas, desenhos, textos, mapas, fotos, vídeos),
se anunciam, documentam e prolongam.
O rei vai nu ― difícil dizer tanto sobre nada!
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