quinta-feira, 16 de agosto de 2012

NEM FORMA NEM CONTEÚDO

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As imagens do conjunto mostrado em cima são desenhos de Marta Wengorovius expostos em Lisboa neste momento e fotografados por mim esta manhã. Publico-os porque constituem exemplo do que é  arte pindérica promovida. A forma é esteticamente zero e o conteúdo, alegadamente o importante, é dez graus abaixo. Tudo isto embrulhado em retórica redonda e sem ponta por onde pegar, como se comprova na leitura do texto que apresenta a mostra, elaborado por João Pinharanda ― um amigo a fazer o frete, ou um cabotino; provavelmente ambas as coisas.
Obras sem presente nem futuro que a selecção natural do senso e do meio eliminarão mais depressa que o homem de Neanderthal, ficando na história da arte como desconhecidos buracos negros.
É assim o texto de Pinharanda:

A artista apresenta um conjunto de grandes desenhos de absoluta simplicidade formal e cromática. Cada um formula um pensamento para um facto ou para uma acção que nos situa em espaços concretos, nos recorda momentos determinados, nos incita a fazer coisas ou a seguir ideias marcadas por uma referência maior: a figura, o pensamento e a acção de Friedrich Nietzsche.
Traçando linhas esquemáticas sobre o branco das folhas e apresentando pequenos apontamentos de texto indicativos ou explicativos, a artista não se serve só da dimensão de Nietzsche como filósofo maior do mundo contemporâneo; Marta Wengorovius aproxima-se também do homem comum que nele existia, através da exploração das suas atitudes, hábitos e obsessões face à ideia  de saúde e de doença — questão que, como sabemos, ocupou intensamente parte da sua vida, no final afligida por doença mais mental do que física.
Toda a obra de Marta Wengorovius integra uma visão totalizadora da arte e da vida onde os meios de interpretação da realidade que caracterizam a arte (mas também qualquer pensamento, com notável presença no pensamento filosófico) e a realidade tendem a coexistir. Há na sua atitude como artista, uma eufórica crença na acção comum, e um dos modos mais evidentes de evidenciar isso é a actividade performativa para a qual mobiliza os seus espectadores. Para nós, nunca se trata meramente de visitar as suas exposições, mas de participar em acções que concretizam as suas intenções artísticas: refeições comuns, caminhadas contemplativas, discussões e palestras que nas salas de galerias e museus (através de pinturas, desenhos, textos, mapas, fotos, vídeos), se anunciam, documentam e prolongam.

O rei vai nu  difícil dizer tanto sobre nada!

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