Shakespeare escreveu que o mundo é um palco onde os homens e mulheres são simples actores. Soa a boutade emergindo de um palpite ― todos desempenhariam um papel na peça de que não são autores. Mais ou menos como marionetas comandadas à distância por fios.
No tempo de Shakespeare, as neurocências nem sequer tinham chegado à pedra lascada e a asneira era livre; não significando isto que o autor estivesse a asnear ― mas falava sem fundamento científico e o que dizia soava a “boca”. No mínimo, afirmava implicitamente que o livre arbítrio era discutível, e talvez nem existisse.
Entretanto vieram as neurociências,
com capacidade de documentar com imagens a actividade mental, o que revolucionou
muita coisa, ou pelo menos pôs em causa conceitos da Psicologia clássica. John Dylan Haynes e Benjamin Libet, entre outros, demonstraram
com imagiologia que a actividade cerebral precede o comportamento, o que não é
surpresa; mas também que essa actividade precede a decisão consciente sobre um
comportamento, como escolher um de dois botões duma maquineta qualquer em que os estudados tinham de carregar, precedendo a actividade bioquímica a decisão consciente 7 a 10
segundos, o que é muito tempo numa situação destas.
Serve isto para soprar na
chama acesa pelos que dizem que o comportamento humano é mera tradução de
processos bioquímicos a que o homem ― e a mulher ― dificilmente escapam. Isto
é, o livre arbítrio depende ― se não completamente, pelo menos em parte ― da
genética.
É claro que a decisão
consciente dependerá muito mais da informação e de valores culturais e éticos quando
é complexa. Para situações simples, poderá não depender nada. De qualquer
maneira, é uma caixa de Pandora a matéria. As implicações religiosas são
grandes e as da Psicologia Forense enormes. Basta recordar os dois pareceres
contraditórios recentes sobre a imputabilidade de Breivik, na Noruega.
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