Galeno, mais precisamente Cláudio Galeno, nasceu em 129 AD,
em Pérgamo — hoje na Turquia — filho de
pais gregos. Estudou Medicina em Alexandria, voltando depois a Pérgamo onde foi
médico da escola de gladiadores. Tal trabalho deu-lhe enorme experiência no
tratamento de feridas e fez dele um médico de primeira água na época. Em 160,
foi para Roma, onde foi médico do imperador Marco Aurélio e seus sucessores
Comodius e Septimius Severus. Uma figura
importante, sem dúvida, cujo espírito científico
dominou a Medicina durante mais de 1.500 anos.
Galeno investigava — não cultivava a formulação teórica
de conceitos, como inesperadamente viria
a acontecer durante anos depois na Medicina. Dedicava grande cuidado à dissecção
de animais, descobrindo, por exemplo, que
a urina era produzida no rim e não na bexiga como se dizia até aí, e que o
sangue circulava nas artérias — e era aqui que queria chegar.
Galeno, no Século II, descobriu que o sangue circulava
nas artérias. E sabe o leitor, menos familiarizado com estas coisas, quando se
descobriu a circulação sanguínea? Extraordinariamente, só em 1628, William
Harvey, médico nascido na Irlanda e formado na Universidade de Cambridge, publicou um livro intitulado "Exercitatio Anatomica de Motu Cordis
et Sanguinis in Animalibus", onde explicava que o sangue era bombeado nas
artérias pelo coração e distribuído por todo o organismo, voltando depois ao
coração através das veias. Em resumo, entre Galeno e Harvey passaram 15
séculos! E sabe porquê?
Não é possível dizer em meia dúzia de linhas a razão
disto — em boa verdade, esta matéria dava para escrever um tratado.
Mas, com algum prejuízo do rigor, simplificando até ao osso, direi que foi o preconceito
o culpado. Primeiro, dos gregos; depois, da Igreja. Na realidade, só no Século
XV, sob a pressão de artistas como Leonardo da Vinci, Rafael e Miguel Ângelo, a
Igreja começou a ser mais tolerante em relação a investigações no corpo humano.
Sei que os pastores da Igreja são homens falíveis como todos
os outros. Mas para uma coisa assim não
há pachorra, com o devido respeito e sem querer ofender ninguém. É que não dizer
isto contribui para perpetuar outros preconceitos; não direi preconceitos com a
mesma gravidade, mas também perniciosos quanto baste. Aí está.
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