No princípio não havia nada. Não havia Terra nem Céu, só um enorme buraco e nenhuma erva. No Norte ficava o lugar do gelo e no Sul o do fogo, Niflheim e Musplheim. O calor Musplheim derreteu o gelo de Niflheime e das gotas dá água nasceu um gigante, Ymer. E que comia Ymer? Parece que também havia uma vaca, Audhumla. E que comia ela? E havia também algum sal... e por aí fora.
Não devo ofender sensibilidades religiosas, mesmo as sensibilidades religiosas Vikings, mas quero dizer que esta não é uma imagem satisfatória da origem do universo. Mesmo deixando de lado as objecções à verdade da tradição, a história levanta tantos problemas como aqueles a que responde, e cada resposta cria nova confusão na situação do princípio.
Assim se lê, no livro islandês do século XIII, "Prose
Edda", a comentar como era narrado o princípio do mundo na tradição nórdica. O livro
contém muitas lendas e não se sabe bem o que significa Edda, admitindo-se que
seja avó ou forma de Oddi, antigo nome da Islândia. Tem quase 300 páginas na
actual edição em inglês e pode ser encontrado no site do Projecto Gutenberg.
Serve a transcrição para dizer que a origem do universo é
incógnita a preocupar o homem desde os tempos mais antigos. E desde o Século XVI,
início da ciência moderna, que os físicos e os astrónomos voltaram ao princípio
da investigação... do princípio; embora até recentemente a matéria não fosse
considerada abordável cientificamente, pelo que tais investigações tinham
estatuto quase de ciência oculta.
Mas tudo mudou nas últimas décadas com a teoria do Bing Bang
e com o progresso da Física Atómica, consubstanciado no Modelo Padrão da
constituição da matéria. Desde o tempo do Niflheim e do Musplheim, avançou-se
ligeiramente; mas, como se lê no "Prose Edda" — ou "Younger
Edda" — a ciência continua a
levantar tantos ou mais problemas do que aqueles a que responde. E como disse
Deutsch, ontem aqui citado, nunca aparecerá o anúncio de que a partir dum muro
está a última explicação. Tal como nunca se poderá resolver o problema do
barbeiro espanhol, de quem ontem também falámos, que se barbeava a ele próprio,
apesar de só barbear quem não se barbeava a si próprio. Uma trapalhada!...
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