Johan Cruyff dava sempre uma palmada na barriga do seu
guarda-redes antes dos jogos. Serena Williams bate a bola no campo cinco vezes antes do primeiro
serviço. Tiger Woods usa
invariavelmente camisolas vermelhas no último dia dos torneios. Muita gente não
passa por baixo de escadas, ou não entra com o pé esquerdo numa casa pela
primeira vez. Jennifer Aniston dá um pontapé na parte exterior
dos aviões antes de embarcar. Há quem nunca ponha as folhas do chá na água
antes de esta ferver. O que é isto?
Superstições diz o leitor sem qualquer hesitação. É a
crença em coisas sobrenaturais que podem influir nos fenómenos. Coisas de quem
tem consciência.
Claro?
De forma alguma — bastante escuro até. Vou contar uma
coisa interessante. O psicólogo B. F. Skinner, antes e durante as conferências,
faz a demonstração que passo a descrever. Coloca pombos em gaiolas individuais,
gaiolas que têm um comedouro automático a dar comida de 15 em 15 segundos e
depois cobre as gaiolas. Quando chega ao fim, descobre-as e mostra o
comportamento dos pombos. Um, por exemplo, dá três voltas sobre si mesmo, no
sentido dos ponteiros do relógio, antes de ir buscar a comida que sai do
comedouro. Outro bate com a cabeça no canto superior esquerdo da caixa, o
terceiro blá, blá, blá.
Porquê isto? Acontece que os pombos não sabem nada de
comedouros automáticos e, quando aquela geringonça começou a dar comida, um
estava a rodar como o relógio, o outro estava a dar cabeçadas, blá, blá, blá. E
a verdade é que, sempre que faziam o ritual, vinha comida. São os pombos
supersticiosos? Não me parece!
Então, e o homem? O homem — tal como a mulher — é um
artolas igual aos pombos: aí está! Repete actos que associa a êxitos passados,
ou evita actos ligados a insucessos, seja isso feito por experiência própria,
ou por lhe ter sido inoculado no encéfalo por tradição cultural de meia-tigela.
E o raciocínio é sempre o mesmo: mal não faz!
Em situações de grande pressão psicológica, como é o
desporto de alta competição, as coisas ainda são mais complicadas — não se pode
esquecer nada, mesmo sendo uma bimbalhada. É o just in case, ou "para o caso ". Restos do Antropithecus.
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