Tem a existência significado, propósito, é uma necessidade?
A verdade é que somos coisas acidentais e contingentes, que facilmente podíamos não
ter existido. Facilmente como? Basta fazer contas simples. O genoma humano tem
cerca de 30.000 genes, havendo um par (alelo) de cada um. Assim, o número
máximo de combinações possíveis é igual a 2 elevado a 30.000, o que dá um número com um 1 seguido de 10.000
zeros, aproximadamente. Estima-se que, desde a emergência da nossa espécie, já
nasceram à volta de 40 mil milhões de seres desta espécie. Mesmo cortando por
largo, considerando 100 mil milhões, a fracção de seres que existiram
representará menos de 0,0000...000001
(incluir dez mil zeros no lugar das reticências) do total possível. Fazemos
parte dessa fracção—repito, cada um de nós teve 1 probabilidade de existir em 10 elevado a um número que nem sei como se lê: é obra!
Tivemos sorte!
Tivemos sorte? Ou não? Há pontos de vista; ou teorias; ou
convicções; ou crenças; ou fés. Richard Dawkins, o ateu, acha que sim. No coro
da tragédia "Édipo em Colono", Sófocles diz que nascer nunca é o
melhor. Bertrand Russel vagueia—no meio de considerações sobre a quem
se deve agradecer o ter nascido, se aos pais, se ao espermatozóide que chegou
primeiro e fecundou o óvulo—e admite que pode ser melhor existir
que não existir e, por isso, fala das precedências protocolares dos
agradecimentos ao espermatozóide, versus agradecimento aos pais (não
lembra ao Diabo!).
Mas as coisas são mais compridas — tão compridas que não cabem
num blog — porque depois vem o problema
do eu, ou do ego. O que caracteriza o cidadão—ou cidadã—é
o genoma, ou o ego? Descartes, com essa coisa do "penso, logo existo"
encerrava a discussão: ego é a cabecinha pensadora. De acordo com as leis da Biologia,
o ego deve ser determinado pelo genoma. Mas os gémeos homozigóticos, com
genomas iguais, não têm o mesmo ego. Pode mesmo perguntar-se se o ego é
característica fixa—se não há um ego hoje, outro amanhã, outro para a semana,
blá, blá, blá. E se há, o que nos dá a individualidade? Estava Descartes a asnear? Uma trapalhada!...
.
Sem comentários:
Enviar um comentário