Timothy Garton Ash é professor de Estudos Europeus em Oxford e fellow—equivalente, mais ou menos, a professor convidado—na Universidade de Stanford, EUA. Escreve hoje um artigo de mil palavras no "The New York Times" sobre a Europa, intitulado " Pode a Europa Sobreviver ao Crescimento do Resto?" (Can Europe Survive the Rise of the Rest?), sintético e conciso.
Começa com três perguntas e três respostas: i) Quem ganhou mais medalhas nos Jogos Olímpicos—Europa; ii) Qual a maior economia do mundo—Europa; iii) Onde vai a maioria do mundo passar férias?—Europa. Em muitos aspectos do poder, a União Europeia pertence, com os Estados Unidos e a China, aos três grandes. Mas dizer tal em Pequim, Washington ou outra capital desperta risos. A "potencial potência" europeia está doente, diz Ash, cujo nome premonitoriamente significa cinza.
Ash atribui a situação ao desaparecimento das cinco
forças que dinamizaram a União. A primeira tem a ver com o apagamento da
memória da tragédia da II Guerra, que começou há muitos anos (fez ontem 73) e
as última gerações que a viveram já bateram as botas, ou estão em vias de as
bater. É a vida!
A segunda é o desaparecimento
da União Soviética. Tal aborto não servia para nada—o estilo é meu—mas era
cimento entre os países a Oeste, ainda não abençoados com o Sol que iluminava a
Terra—Cunhal dixit.
A terceira é o
novo comportamento da Alemanha, muitos anos inibida pelas "proezas"
da Guerra, em que fez um papelão. Isso e o facto de estar dividida e temer que
os outros europeus não quisessem a união—porque tinham medo dela—fazia com que
andasse com o rabo entre as pernas e a bater a bola baixinho. Agora está unida,
a memória da Guerra apagou-se, ou quase, e está outra vez a transformar-se na
"maior" (mau sinal, digo eu)—na Alemanha, a asneira é como a cortiça:
vem sempre ao de cima.
A quarta era o
tropismo dos antigos países do Pacto de Varsóvia no sentido de deixarem aquela pessegada e se dirigirem a uma
Europa—um pouco romanceada nas sua cabeças—que não veio a corresponder às
expectativas.
Finalmente, o
facto do grande padrão da qualidade de vida europeia ter sido posto em causa por
demagogos megalómanos tipo Zezito—o professor não fala dele porque não o deve conhecer,
mas não sabe o que perde—que se endividaram até aos colarinhos e puseram tudo
em causa.
Ash pensa que com
mais união política e fiscal isto vai lá. A Europa tem a solução no próprio
ventre. A propósito recorda Bismark, quando lhe mostravam o mapa de África
e o valor estratégico e económico dum império colonial. Dizia ele: A França está à
esquerda, a Rússia à direita e nós estamos no meio—esse é o meu mapa de
África. Ash parafraseia: A China, Rússia
e a Índia estão á direita, a América e o Brasil estão à esquerda—esse é o nosso
mapa da Europa.
Nota—Consegui reduzir o
texto de Ash a metade e penso não o ter traído excessivamente. Se o fiz,
peço-lhe desculpa. E também pela vulgaridade do estilo que não é, de forma
alguma, o de Timothy Garton Ash; ou de Oxford. Nem por sombras! E ainda por usar abusivamente a figura do jornal que está muito boa.
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