Hoje senti grande alívio—há muito que não tinha
notícias do Dr. Soares e começava a recear que já estivesse empalhado. Mas
não!... O Dr. Soares foi fazer uma conferência ao centro de gravidade política do
planeta que é Loulé e falou—bem, como sempre, e com ideias originais.
Referindo-se a Tozé Seguro, o Dr. Soares foi categórico: "Nunca
o vi dizer uma coisa com tanta clareza como agora". E acrescentou: "Ele
disse 'não aceito mais austeridade' e acho que fez muito bem". Também acho,
mas quem sou para sequer apoiar o Dr. Soares e o seu pensamento político vindo
do espaço interestelar? Sou ninguém, como o romeiro do Frei Luís de Sousa.
De qualquer maneira, atrevo-me a introduzir subtil e
impertinente correcção no discurso de Tozé citado pelo "Pai da Democracia",
Democracia que, em 38 anos, já levou três vezes o País à falência, uma das
quais sob a batuta do Dr. Soares. Tozé terá dito "o PS não está para mais
austeridade" e não "não aceito mais austeridade". Há diferença
semântica, pois o sujeito é diferente nas duas frases—no tempo de Dr. Soares
era indiferente isso, porque os sujeitos coincidiam; mas em tempo da escopeta
de carregar pela boca que é Tozé, não é assim. E o Dr. Soares agora está de
fora, com lamentável prejuízo daí decorrente
para a nação, e quem está de fora racha lenha—para não criar mais recibos verdes,
pagar o subsídio de Natal com Certificados de Aforro, ou singelamente não o
pagar, como aconteceu quando foi Primeiro-Ministro.
Mas o Dr. Soares está na posse duma informação importante
que ontem revelou: "Os portugueses têm consciência da situação dificílima
que estamos a viver". É verdade! Como soube tal coisa, mais
difícil de perceber que a situação que precedeu o Big Bang? Posso estar errado,
mas suspeito que foi o Zezito, a frequentar altos estudos de Filosofia Política
na Cidade-Luz que lhe disse. Só pode ter sido!
E termino, perguntando pertinentemente o que seria de nós sem estas intervenções políticas e públicas do Dr. Soares, infelizmente tão raras? Quem nos esclarecia?
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