domingo, 16 de setembro de 2012

' BIG BANG ' E ' BIG BONG '

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Quando uma fonte sonora como um comboio se aproxima de nós, a intensidade do som aumenta, vai sendo progressivamente mais agudo e atinge o máximo quando chega junto do local onde estamos. Logo que passa e começa a afastar-se, a intensidade diminui e decresce rapidamente, sendo cada vez mais grave—é o efeito Doppler, coisa totalmente careca: com a aproximação, aumenta a frequência das ondas sonoras e diminui o  seu comprimento, e quando se afasta acontece o contrário. Com a luz é a mesma coisa: se uma fonte luminosa se afasta a grande velocidade, a luz que nos chega vai diminuindo a frequência e aumentando o comprimento de onda. Se a luz é amarela, vai passando para o laranja e, depois para o vermelho—é o redshift, ou desvio para o vermelho. Naturalmente, se o afastamento continua, continua o desvio, para o infravermelho primeiro, depois para as micro-ondas, depois para as ondas da rádio e do radar, sempre a aumentar o comprimento de onda—estas radiações são todas da mesma natureza, só diferem na frequência e no comprimento de onda.
Serve isto para introduzir o fenómeno do "ruído cósmico de fundo", que tentarei explicar. Quando do Big Bang, foram produzidas quantidades literalmente astronómicas de radiação electromagnética que começou a espalhar-se pelo cosmos—raios gama, raios X, radiação ultravioleta, visível, infravermelha, blá, blá, blá. Como o universo entrou de imediato em expansão, essa radiação foi-se afastando do que existia em volta—ou ao contrárioe o que existia em volta recebia essa radiação como a pessoa que está na estação a ouvir o comboio a afastar-se: a frequência ia diminuindo e o comprimento de onda aumentando. Portando, o que era amarelo chegava laranja, ou vermelho quando chegava. Mas se a distância fosse muito grande e a fonte da luz muito rápida, como é o caso na expansão do universo, a radiação passava a infravermelho, a micro-ondas ou a ondas da rádio e radar.
E porque falo nisto? Porque em 1965, dois investigadores da Bell Telephone—Arno Penzias e Robert Wilson, na imagem em cima—detectaram radição de micro-ondas vinda do espaço, de todas as direcções, sem nenhuma explicação.
Bob Dick e Jim Peebles, da Universidade de Princeton, perceberam o que se passava: aquelas micro-ondas, era radiação gerada pelo Big Bang há 13,7 mil milhões de anos que só agora estava a chegar à Terra, com um enorme redshift, já nas micro-ondas—é o que se chama hoje o "ruído cósmico de fundo", coisa extraordinária, de fazer cair o queixo. Mas tal como Saramago levou o Prémio Nobel da Literatura e Jorge Amado não, também Arno Penzias e Robert Wilson levaram o da Física, em 1978, e Bob Dick e Jim Peebles ficaram a chuchar no dedo, como os pensionistas portugueses com os subsídios de férias e Natal. É a porca da vida, embrulhada no "ruído cósmico de fundo" a chegar mais depressa do que pensávamos desse Big Bong que é este Governo, mais ou menos fora da constelação.
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