Quando uma fonte sonora como um comboio se aproxima de
nós, a intensidade do som aumenta, vai sendo progressivamente mais agudo e atinge o máximo quando chega
junto do local onde estamos. Logo que passa e começa a afastar-se, a
intensidade diminui e decresce rapidamente, sendo cada vez mais grave—é o efeito Doppler, coisa totalmente
careca: com a aproximação, aumenta a frequência das ondas sonoras e diminui o seu comprimento, e quando se afasta acontece o
contrário. Com a luz é a mesma coisa: se uma fonte luminosa se afasta a
grande velocidade, a luz que nos chega vai diminuindo a frequência e aumentando
o comprimento de onda. Se a luz é amarela, vai passando para o laranja e,
depois para o vermelho—é o redshift, ou desvio para o vermelho. Naturalmente,
se o afastamento continua, continua o desvio, para o infravermelho primeiro,
depois para as micro-ondas, depois para as ondas da rádio e do radar, sempre a
aumentar o comprimento de onda—estas radiações são todas da mesma natureza, só
diferem na frequência e no comprimento de onda.
Serve isto para introduzir o fenómeno do "ruído
cósmico de fundo", que tentarei explicar. Quando do Big Bang, foram
produzidas quantidades literalmente astronómicas de radiação electromagnética
que começou a espalhar-se pelo cosmos—raios gama, raios X, radiação ultravioleta, visível, infravermelha, blá, blá, blá. Como o universo entrou de imediato em
expansão, essa radiação foi-se afastando do que existia em volta—ou ao contrário—e o que
existia em volta recebia essa radiação como a pessoa que está na estação a
ouvir o comboio a afastar-se: a frequência ia diminuindo e o comprimento de
onda aumentando. Portando, o que era amarelo chegava laranja, ou vermelho quando chegava. Mas se a distância fosse muito grande e a fonte da luz muito
rápida, como é o caso na expansão do universo, a radiação passava a
infravermelho, a micro-ondas ou a ondas da rádio e radar.
E porque falo nisto? Porque em 1965, dois investigadores
da Bell Telephone—Arno Penzias e Robert Wilson, na imagem em cima—detectaram radição de
micro-ondas vinda do espaço, de todas as direcções, sem nenhuma explicação.
Bob Dick e Jim Peebles, da Universidade de Princeton,
perceberam o que se passava: aquelas micro-ondas, era radiação gerada pelo Big
Bang há 13,7 mil milhões de anos que só agora estava a chegar à Terra, com um
enorme redshift, já nas micro-ondas—é o que se chama hoje o "ruído cósmico
de fundo", coisa extraordinária, de fazer cair o queixo. Mas tal como Saramago
levou o Prémio Nobel da Literatura e Jorge Amado não, também Arno Penzias e
Robert Wilson levaram o da Física, em 1978, e Bob Dick e Jim Peebles ficaram a
chuchar no dedo, como os pensionistas portugueses com os subsídios de férias e
Natal. É a porca da vida, embrulhada no "ruído cósmico de fundo" a chegar mais
depressa do que pensávamos desse Big Bong que é este Governo, mais ou menos fora
da constelação.
. ..
Sem comentários:
Enviar um comentário