Política é um conflito de interesses disfarçado de divergência
de princípios—a condução dos negócios púbicos em proveito de privados.
Ambrose Bierce
Quem nos olhasse de
fora acharia que uma nação cuja soberania depende dos programas do sr. Malato,
de noticiários manipulados por sucessivos governantes e de reposições de séries
americanas transmitidas dois anos antes pela Fox não se aguentaria por muito
mais tempo. Por sorte, sendo frágil em matéria televisiva, Portugal, ou a indignação
dos portugueses, é imperturbável no que respeita ao resto.
É óbvio que
perturbar a RTP suscita um drama. Mas estrafegar as contas públicas, por
exemplo, não maça ninguém. E ninguém subscreve manifestos contra o
"investimento" estatal, leia-se sufocar a economia com impostos e
corrompê-la mediante a redistribuição calculada dos mesmos. Ninguém reputa de
fraudulenta a destruição sistemática do sistema de ensino, de que as Novas
Oportunidades foram o mero apogeu. Ninguém julga uma pouca-vergonha o caldo de
compadrios e boçalidade a que por cá se chama poder autárquico. Ninguém
considera ilegítima a negociata das energias "renováveis", que só se
renovam à custa do contribuinte. E decididamente ninguém acusa de
inconstitucional a proeza de deixar a nação à míngua e à esmola, para cúmulo a
juros elevados. Ninguém, ou quase ninguém, o que no caso é exactamente igual.
Inconformado, Mário
Soares pergunta: se se vender a RTP (e a TAP, e maravilhas públicas similares),
o que é que fica do nosso país? Fica o que a democracia de que o dr. Soares é
um adequado pai permitiu que escapasse à paternidade do Estado: um deserto,
igualzinho ao actual excepto na poupança de centenas de milhões de euros e o
lamentável sumiço do sr. Malato.
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Alberto Gonçalves in "Diário de Notícias"
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