Falava ontem duma coisa triste que é a morte das estrelas—não
da Marilyn Monroe ou da Greta Garbo, mas de estrelas propriamente ditas, como o
Sol que nos aquece e ilumina. Dizia eu—porque li nos livros, não porque
descobri, está bem de ver—que, esgotando-se o hidrogénio, combustível "super"
das estrelas, estas arrefecem e a força da gravidade que tem tendência a
reduzir o volume de tudo fá-las colapsar. Mas há uma parte exterior da estrela,
como se fosse a casca da laranja, que explode e sai pelo espaço fora, tudo
acompanhado dum fogo de artifício de meter medo. É à luz dessa explosão que os
astrónomos chamam supernova (vai em itálico porque é latim e fica mais fino).
Essas supernovae (é latim no plural!) têm restos de elementos pesados que
permanecem no espaço misturados com gás, que é sobretudo hidrogénio, e são
incorporados nas novas estrelas que se formam depois. Chamam-se elementos pesados porque os seus átomos o são literalmente, com muitos mais protões, neutrões e electrões
que o hidrogénio, que só tem um protão e um electrão—levezinho como o Liedson!
O nosso Sol é a segunda ou terceira geração duma família
de estrelas que explodiram em supernovae e, por isso, tem elementos pesados.
Mas a maior parte dos elementos pesados da mãe e da avó do Sol permaneceram no
espaço e vieram a formar planetas que hoje orbitam o Sol—Mercúrio, Vénus, Terra, Marte, Júpiter,
blá, blá, blá. Por isso, há ouro na Terra, um elemento pesadíssimo com 79
protões e 118 neutrões no núcleo, e 79 electrões a gravitar em volta dele.
Quando o universo começou, a seguir ao Big Bang, o
primeiro átomo que se formou foi o mais simples, o hidrogénio—ainda
hoje o mais abundante, de longe, em todo o lado. Por fusão nuclear do
hidrogénio, foi-se formando hélio. Mas quando o combustível das estrelas começa
a esgotar-se, como se fosse uma tentativa para sobreviver, as estrelas fundem outros átomos—primeiro o hélio, depois o carbono, depois blá, blá, blá, até chegar ao urânio que é uma
coisa medonha com 92 protões e 143 a 146 neutrões no núcleo, e 92 electrões em
volta.
Ou seja, o ouro da sua aliança de casamento foi feito
numa estrela, antepassada do Sol, já em fim de vida e a "queimar" tudo
que tinha à mão para sobreviver, como o "náufrago" do deserto bebe a
própria urina para se hidratar. Mas não fique impressionado porque o seu corpo é feito
quase todo de átomos nascidos da mesma maneira. Por isso digo muitas vezes que
somos pó de estrela. E não há que ter vergonha disso. É verdade!
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