domingo, 16 de setembro de 2012

EM ITÁLICO

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A CGTP refere a política "implementada pelo Governo do PSD e CDS e reclamada pela troika". O PCP fala nas "duras medidas do Pacto de Agressão impostas pela Troika". O PS explica que o Governo "decidiu ir radicalmente para além da troika". O Bloco de Esquerda descobriu que o "memorando da troika conseguiu tudo o que queria porque queria falhar". E no sábado milhares de pessoas desfilaram numa manifestação sob o lema "Que se lixe a Troika".
Por acaso, mesmo que no meio de elogios genéricos, até a própria troika começa a mostrar impaciência face ao Governo, que delicadamente acusa de tentar corrigir o défice pelo lado da receita sem bulir a sério no lado da despesa. Trata-se, em geral, de uma acusação válida, que ninguém na oposição "clássica" (ou, diga-se de passagem, quase ninguém na oposição interna) admite. Porquê?
Acima de tudo, porque admitir a única alternativa plausível às desastradas medidas do dr. Passos Coelho e do dr. Gaspar não teria efeitos muito populares. Não estou a ver Jerónimo de Sousa, Francisco Louçã ou sequer o pobre dr. Seguro entusiasmarem as massas enquanto reclamam cortes nos gastos do Estado por troca com o aumento da carga fiscal. Fora do hospício a que chegamos, criticar o Governo implicaria assumir a necessidade de reduzir cruel e drasticamente aquilo que pesa, leia-se as prestações sociais e os funcionários da administração pública, leia-se enveredar pela supressão de apoios e pelos despedimentos. No hospício em causa, critica-se o Governo sem sugerir o vestígio de uma solução.
Os impostos são maus? São péssimos, e só é pena que a esquerda tenha demorado tanto tempo a compreendê-lo. Infelizmente, a singela contrapartida da esquerda aos impostos passa pelo "investimento" de iniciativa estatal, de resto a brilhante estratégia que nos deixou neste buraco. De qualquer modo, era interessante perceber onde é que a esquerda inventaria o dinheiro para financiar o dito "investimento". Talvez na Casa da Moeda. Talvez nas míticas "grandes fortunas", que os amigos dos trabalhadores multiplicam por trezentos e imaginam dispostas a permanecer aqui para fins de espoliação. Talvez no lugar encantado, repleto de fadas e duendes (e milionários), em que habita.
O dr. Passos Coelho falhou todas as promessas alusivas ao "emagrecimento" do Estado e, salvo por uma benesse inútil às empresas, optou claramente pela via socialista. A oposição acusa-o de liberalismo (ou, para os semi-letrados, de "neoliberalismo") e exige que se lance gasolina às chamas. Quanto ao povo que protesta nas ruas, e que resume os excessos estatais a umas dúzias de motoristas e privilégios afins, protestaria em triplo se se tomassem as medidas de que Portugal carece ao invés daquelas que perpassam a cabeça dos nossos admiráveis governantes. No fundo, paira por aí a convicção unânime de que a Alemanha está obrigada a sustentar-nos, a título de "solidariedade" europeia ou formulação divina.
Se em condições normais já seria difícil salvar o país, assim é impossível. Às vezes apetece ponderar se será desejável.  
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Alberto Gonçalves in "Diário de Notícias"
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