A CGTP refere a
política "implementada pelo Governo do PSD e CDS e reclamada pela
troika". O PCP fala nas "duras medidas do Pacto de Agressão impostas
pela Troika". O PS explica que o Governo "decidiu ir radicalmente
para além da troika". O Bloco de Esquerda descobriu que o "memorando
da troika conseguiu tudo o que queria porque queria falhar". E no sábado
milhares de pessoas desfilaram numa manifestação sob o lema "Que se lixe a
Troika".
Por acaso, mesmo
que no meio de elogios genéricos, até a própria troika começa a mostrar
impaciência face ao Governo, que delicadamente acusa de tentar corrigir o
défice pelo lado da receita sem bulir a sério no lado da despesa. Trata-se, em
geral, de uma acusação válida, que ninguém na oposição "clássica"
(ou, diga-se de passagem, quase ninguém na oposição interna) admite. Porquê?
Acima de tudo,
porque admitir a única alternativa plausível às desastradas medidas do dr.
Passos Coelho e do dr. Gaspar não teria efeitos muito populares. Não estou a
ver Jerónimo de Sousa, Francisco Louçã ou sequer o pobre dr. Seguro
entusiasmarem as massas enquanto reclamam cortes nos gastos do Estado por troca
com o aumento da carga fiscal. Fora do hospício a que chegamos, criticar o
Governo implicaria assumir a necessidade de reduzir cruel e drasticamente
aquilo que pesa, leia-se as prestações sociais e os funcionários da
administração pública, leia-se enveredar pela supressão de apoios e pelos despedimentos.
No hospício em causa, critica-se o Governo sem sugerir o vestígio de uma
solução.
Os impostos são
maus? São péssimos, e só é pena que a esquerda tenha demorado tanto tempo a
compreendê-lo. Infelizmente, a singela contrapartida da esquerda aos impostos
passa pelo "investimento" de iniciativa estatal, de resto a brilhante
estratégia que nos deixou neste buraco. De qualquer modo, era interessante
perceber onde é que a esquerda inventaria o dinheiro para financiar o dito
"investimento". Talvez na Casa da Moeda. Talvez nas míticas
"grandes fortunas", que os amigos dos trabalhadores multiplicam por
trezentos e imaginam dispostas a permanecer aqui para fins de espoliação.
Talvez no lugar encantado, repleto de fadas e duendes (e milionários), em que habita.
O dr. Passos Coelho
falhou todas as promessas alusivas ao "emagrecimento" do Estado e,
salvo por uma benesse inútil às empresas, optou claramente pela via socialista.
A oposição acusa-o de liberalismo (ou, para os semi-letrados, de "neoliberalismo")
e exige que se lance gasolina às chamas. Quanto ao povo que protesta nas ruas,
e que resume os excessos estatais a umas dúzias de motoristas e privilégios
afins, protestaria em triplo se se tomassem as medidas de que Portugal carece
ao invés daquelas que perpassam a cabeça dos nossos admiráveis governantes. No
fundo, paira por aí a convicção unânime de que a Alemanha está obrigada a
sustentar-nos, a título de "solidariedade" europeia ou formulação
divina.
Se em condições
normais já seria difícil salvar o país, assim é impossível. Às vezes apetece
ponderar se será desejável.
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Alberto Gonçalves in "Diário de Notícias"
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