sábado, 8 de setembro de 2012

FELICIDADE TEM FIM

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Gente triste é simpática. Gente zangada é desagradável. Gente feliz é desagradável também. Estranho, não é?
As duas primeiras afirmações são compreensíveis. A terceira é inesperada, mas é substanciada num estudo publicado na revista  "Psychological Science" em 2004, citado pelo jornalista do "The New York Times", Jim Holt. Segundo os autores, quanto mais feliz, mais propenso a fazer julgamentos apressados sobre o próximo. Pessoas do género "tudo bem" são desagradáveis, injustas, egoístas e convencidas que são as maiores, para resumir o artigo.
A ciência da felicidade tem-se resumido a estudar causas, ou o modo como se chega a ela. As consequências não têm tido grande atenção; embora Ambrose Bierce, no "Dicionário do Diabo" de 1906, já dissesse que a felicidade é uma sensação agradável que emana da contemplação da desgraça dos outros.  
Os autores do estudo referido não atingem a sofisticação do cinismo de Bierce, mas vão dizendo que os felizes sobrestimam o controlo que têm sobre o meio envolvente, até ao ponto de acreditarem que coisas aleatórias acontecem para satisfazer a sua vontade; fazem juízos irrealistas das suas qualidades; pensam que os outros os avaliam do modo como se avaliam a eles próprios; e são profundamente injustos quando comparam esses outros com eles. E têm uma coisa terrível—digo eu—que é terem mais apetência  para se envolverem na política. Os autores chegam mesmo a suspeitar que a felicidade, tal como a descrevem, seja um caso psiquiátrico!
É estranho um estado que é simultaneamente um objectivo, mencionado em várias constituições, carregar em si tal carga negativa. Mas acho que sim—carrega.
Tenho a sensação que no mundo, tal como existe, não é muito normal ser tão feliz como alguns e algumas mostram ser. Tal como desconfio dos cruzados, seja do aquecimento global, da camada de ozono, da igualdade de classes e por aí fora, também fico de pé atrás com gente muito feliz. Não é muito normal aquilo. Não é.
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