As duas primeiras afirmações são compreensíveis. A terceira é inesperada, mas é substanciada num estudo publicado na revista "Psychological Science" em 2004, citado pelo jornalista do "The New York Times", Jim Holt. Segundo os autores, quanto mais feliz, mais propenso a fazer julgamentos apressados sobre o próximo. Pessoas do género "tudo bem" são desagradáveis, injustas, egoístas e convencidas que são as maiores, para resumir o artigo.
A ciência da felicidade tem-se resumido a estudar causas,
ou o modo como se chega a ela. As consequências não têm tido grande atenção; embora Ambrose Bierce, no "Dicionário do
Diabo" de 1906, já dissesse que a felicidade é uma sensação agradável
que emana da contemplação da desgraça dos outros.
Os autores do estudo referido não atingem a sofisticação
do cinismo de Bierce, mas vão dizendo que os felizes sobrestimam o controlo que
têm sobre o meio envolvente, até ao ponto de acreditarem que coisas aleatórias acontecem
para satisfazer a sua vontade; fazem juízos irrealistas das suas qualidades;
pensam que os outros os avaliam do modo como se avaliam a eles próprios; e são
profundamente injustos quando comparam esses outros com eles. E têm uma coisa
terrível—digo
eu—que é terem mais apetência para se
envolverem na política. Os autores chegam mesmo a suspeitar que a felicidade, tal como a descrevem, seja um caso psiquiátrico!
É estranho um
estado que é simultaneamente um objectivo, mencionado em várias constituições, carregar
em si tal carga negativa. Mas acho que sim—carrega.
Tenho a sensação que no mundo, tal como existe, não é
muito normal ser tão feliz como alguns e algumas mostram ser. Tal como desconfio
dos cruzados, seja do aquecimento global, da camada de ozono, da igualdade de
classes e por aí fora, também fico de pé atrás com gente muito feliz. Não é
muito normal aquilo. Não é.
...
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