João César das Neves conta hoje uma história no "Diário
de Notícias", que vale a pena ler para meditar, até porque é curta—está aqui. Começa a dita história há cerca de 100 anos—início da Primeira República,
aproximadamente, talvez incluindo o fim da Monarquia.
Em síntese, a moralidade da história é a de que, quando
as coisas chegam a determinado ponto de degradação económica, social e política,
na governação só há possibilidade de tomar medidas más. Medidas más inspiram
tribunos que provocam protestos, protestos não resolvem problemas mas fazem
cair governos, estes sucedem-se, sobem e caem, blá, blá, blá, e depois vem o Botas
de Santa Comba que corta a direito e acabam-se os protestos, até porque os
tribunos da protestação dão de frosques para ares mais frescos.
Estou de acordo com João César das Neves, ma non troppo.
Sobre os tribunos da protestação, estou o mais possível—sobretudo esses do "povo
unido jamais será vencido", do "que se lixe a troika", do
"Pacto de Agressão" e por aí fora. São tribunos de QI não conhecido,
de impulsos freudianos não esclarecidos, e de passado político mais que sabido que devia reduzi-los ao silêncio.
Sobre as medidas serem todas más, também é verdade. Não
se pode reduzir a dívida, ou as dívidas, sem desagradar a toda a gente. Mas
aqui é que a porca torce o rabo: é a toda a gente e João César das Neves passa
por cima desse pormenor. E provavelmente, é essa a razão porque os "tribunos"
são ouvidos. Tal e qual!
Então um Primeiro-Ministro, mesmo da chocadeira do PSD,
não tem um único assessor—no governo, ou no partido— que lhe diga: "As medidas
que V. Exa quer "implementar" podem estar correctas do ponto de vista
técnico da economia, mas politicamente são uma trampa, com sua licença".
Até Aristóteles, que era mais nhurro do que prometia a
força humana, dizia que a política é a arte do possível. E a Passos Coelho não
era possível continuar alegremente a espremer o Zé—não confundir com o Zezito—sem
espremer mais alguém, eventual e demagogicamente a começar por ele, reduzindo o
seu próprio salário a metade, bem como o de toda a corte governamental; sem
explicar o que vai fazer às PPP, com mês, dia, hora e minuto marcados com pontualidade
britânica e clareza de fazer cataratas oculares a quem o ouvisse; sem dar um
sinal inequívoco de que vai acabar sem clemência com esse escândalo da RêTêPê
que consome mais de um milhão de euros por dia do erário público para pagar balúrdios
a mediocridades como Malato e Catarina Furtado; sem dizer, preto no branco, que
tem coragem para deixar de gastar milhões de euros a subsidiar inutilidades de
luxo como essas fundações do Dr. Soares, de sua mulher Dr.ª Maria Barroso e
muitas outras iguais; sem prometer, com mês, dia, hora e minuto marcados quando
revê os 25% que pagamos na conta da electricidade justificados com a designação
obscura de "Custos de Interesse Económico Geral"; sem prometer tudo
fazer, ele e o seu Partido, para acabar com mordomias escandalosas na área dos
órgãos de soberania; blá, blá, blá.
Só dois dias passados sobre tais decisões e anúncio, podia Coelho
aparecer aos portugueses, com o rabo entre as pernas, a explicar que, afinal, tudo quanto havia
anunciado era pouco e era necessário mais, coisa mais que provável—completamente
certa, penso eu. Mas os portugueses já haviam recebido a pré-anestesia e
estariam mais receptivos à desgraça que aí vinha. Da forma como as coisas estão
a ser conduzidas, jamais se deixarão operar, mesmo que isso lhes custe a saúde.
E Coelho vai ter um lindo enterro—merecido—organizado pelo povo unido que
jamais será vencido.
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