segunda-feira, 17 de setembro de 2012

PARA ISTO SÓ VERNÁCULO

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João César das Neves conta hoje uma história no "Diário de Notícias", que vale a pena ler para meditar, até porque é curta—está aqui. Começa a dita história há cerca de 100 anos—início da Primeira República, aproximadamente, talvez incluindo o fim da Monarquia.
Em síntese, a moralidade da história é a de que, quando as coisas chegam a determinado ponto de degradação económica, social e política, na governação só há possibilidade de tomar medidas más. Medidas más inspiram tribunos que provocam protestos, protestos não resolvem problemas mas fazem cair governos, estes sucedem-se, sobem e caem, blá, blá, blá, e depois vem o Botas de Santa Comba que corta a direito e acabam-se os protestos, até porque os tribunos da protestação dão de frosques para ares mais frescos.
Estou de acordo com João César das Neves, ma non troppo. Sobre os tribunos da protestação, estou o mais possível—sobretudo esses do "povo unido jamais será vencido", do "que se lixe a troika", do "Pacto de Agressão" e por aí fora. São tribunos de QI não conhecido, de impulsos freudianos não esclarecidos, e de passado político mais que sabido que devia reduzi-los ao silêncio.
Sobre as medidas serem todas más, também é verdade. Não se pode reduzir a dívida, ou as dívidas, sem desagradar a toda a gente. Mas aqui é que a porca torce o rabo: é a toda a gente e João César das Neves passa por cima desse pormenor. E provavelmente, é essa a razão porque os "tribunos" são ouvidos. Tal e qual!
Então um Primeiro-Ministro, mesmo da chocadeira do PSD, não tem um único assessor—no governo, ou no partido— que lhe diga: "As medidas que V. Exa quer "implementar" podem estar correctas do ponto de vista técnico da economia, mas politicamente são uma trampa, com sua licença".
Até Aristóteles, que era mais nhurro do que prometia a força humana, dizia que a política é a arte do possível. E a Passos Coelho não era possível continuar alegremente a espremer o Zé—não confundir com o Zezito—sem espremer mais alguém, eventual e demagogicamente a começar por ele, reduzindo o seu próprio salário a metade, bem como o de toda a corte governamental; sem explicar o que vai fazer às PPP, com mês, dia, hora e minuto marcados com pontualidade britânica e clareza de fazer cataratas oculares a quem o ouvisse; sem dar um sinal inequívoco de que vai acabar sem clemência com esse escândalo da RêTêPê que consome mais de um milhão de euros por dia do erário público para pagar balúrdios a mediocridades como Malato e Catarina Furtado; sem dizer, preto no branco, que tem coragem para deixar de gastar milhões de euros a subsidiar inutilidades de luxo como essas fundações do Dr. Soares, de sua mulher Dr.ª Maria Barroso e muitas outras iguais; sem prometer, com mês, dia, hora e minuto marcados quando revê os 25% que pagamos na conta da electricidade justificados com a designação obscura de "Custos de Interesse Económico Geral"; sem prometer tudo fazer, ele e o seu Partido, para acabar com mordomias escandalosas na área dos órgãos de soberania; blá, blá, blá.
Só dois dias passados sobre tais decisões e anúncio, podia Coelho aparecer aos portugueses, com o rabo entre as pernas,  a explicar que, afinal, tudo quanto havia anunciado era pouco e era necessário mais, coisa mais que provável—completamente certa, penso eu. Mas os portugueses já haviam recebido a pré-anestesia e estariam mais receptivos à desgraça que aí vinha. Da forma como as coisas estão a ser conduzidas, jamais se deixarão operar, mesmo que isso lhes custe a saúde. E Coelho vai ter um lindo enterro—merecido—organizado pelo povo unido que jamais será vencido.
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