terça-feira, 4 de setembro de 2012

' REPRISE '

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Aristóteles, sobretudo por razões místicas—porque achava só ser possível ter a Terra como centro do universo; e também porque o movimento circular seria o mais perfeito segundo ele—dizia que os planetas e o Sol andavam em volta da Terra em órbitas elegantemente circulares. Aristóteles devia ser bom tipo, mas era de crenças. Dizia, por exemplo, que na Filosofia—na época incluía a Física e a Astronomia—não era necessário comprovar nada experimentalmente, porque se "ia lá" só com a cabecinha pensadora. E era nhurro:  afirmava convictamente que os corpos mais pesados caíam com maior velocidade que os leves e nunca experimentou se isso era verdade; e, afinal, estava a asnear.
Alguns séculos depois, Ptolomeu—que também era um nadinha marado, pois dizia que quando olhava para os movimentos circulares das estrelas, os pés lhe saiam do chão, embora não explicasse para onde iam os pés—apurou a teoria de Aristóteles.  Segundo ele, a Terra estava no centro do Sistema Solar, rodeada de oito esferas imaginárias em cuja superfície navegavam os planetas e o Sol. As órbitas não estavam, portanto, no mesmo plano (ver figura). Eram as bonecas russas de que falámos em baixo a propósito da Física Atómica—a Física e a Filosofia gastam muito bonecas russas, concluo eu.
O que ficava para lá da última esfera, nunca ficou muito claro na conversa de Ptolomeu. Agora chama-se espaço interestelar; naquela altura Ptolomeu entupiu. E porque terá entupido Ptolomeu, um homem tão prá-frentex que até os pés lhe saiam do chão quando olhava para aquilo? Diz-se que quem tem cu tem medo e Ptolomeu tinha um.
A Igreja achava que a teoria de Ptolomeu estava de acordo com as escrituras, com a grande vantagem de deixar esse tal espaço de fora para o Céu e o Inferno. Até à última esfera, Ptolomeu era competente. A partir daí, eram os teólogos que sabiam e ele calava-se.
Chegados aqui, apetece perguntar: o que pensaria Ptolomeu disto? Curiosamente, e não muito surpreendentemente, devia achar bem. Digo isto porque é um comportamento actual este. A História repete-se, segundo consta e parece ser verdade. E esta história de Ptolomeu é um filme que se vê todos os dias numa sala próxima de si. É verdade!
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