Se a Terra pudesse parar os movimentos de rotação e translação e um comboio viajasse a 90 km/hora de Sul para Norte, quem estava parado e quem estava a andar? Se respondeu que era o comboio que andava, não respondeu muito bem. Sabe porquê? Porque o movimento é um fenómeno relativo e, no caso proposto, é indiferente dizer que a Terra estava parada e o comboio andava para Norte a 90 km/hora, ou que o comboio estava parado e a Terra andava a 90 km /hora para Sul. Estúpido? Nem por isso.
Aristóteles teria respondido ser o comboio que andava e
Newton diria que qualquer das respostas estava certa. Aristóteles era nhurro e
Newton não—grande diferença! Aristóteles acreditava—e quando acreditava numa
coisa, era pior que um jumento—que o repouso era uma característica absoluta e
normal dos corpos, que só se moviam se sujeitos à acção duma força, sendo esse para
ele o caso da Terra, por exemplo. Newton demonstrou que não havia nenhum padrão
do repouso e que é indiferente dizer que A se move em relação a B que está
parado, ou que B se move em relação a A que está parado. Já paro com esta
trapalhada, mas quero ainda fazer pior. Se jogarmos ping-pong dentro da
carruagem dum comboio em marcha, temos que considerar os movimentos da bola em
relação à carruagem, o movimento da carruagem em relação à Terra, o movimento
da Terra em relação ao Sol, à Lua, blá, blá, blá, o movimento da bola em
relação à Terra, em relação ao Sol, à Lua, blá, blá, blá, e ainda em relação ao
movimento do Dr. Soares, que é muito e rápido—190 km/hora—ao Movimento das
Forças Armadas que só parou relativamente, etc.
Estão a pensar que isto são larachas, já percebi. As
guerras entre Aristóteles e Newton serão de Alecrim e Manjerona e por aí fora,
mas vou explicar porque não são. Imagine que no comboio referido e em movimento
relativo, consegue bater com a bola duas vezes exactamente no mesmo ponto da
mesa, com intervalo de 3 segundos. Pensa que bateu com a bola no mesmo sítio;
mas para quem está fora do comboio a vê-lo jogar através da janela, não bateu
porque 3 segundos antes o local da mesa onde abola bateu estava centímetros ou
metros atrás, ou à frente. O mal é que
têm os dois razão. (clicar aqui, ou na figura em cima, para ver uma animação). E isto é importante para a ciência porque a falta de padrão
absoluto de repouso não permite saber se dois fenómenos que ocorreram no espaço
em tempos diferentes, ocorreram no mesmo local. É chato, como diria Pinheiro de
Azevedo, e os cientistas não gostam—é a natureza a complicar sem necessidade,
pronto!
Com Newton, verificou-se que essa coisa do espaço era
relativa e dependente do tempo, o que lhe criou na altura problemas religiosos,
especialmente com um bispo filósofo chamado Berkeley. Mal imaginava o bispo que
tudo viria a piorar com a observação de gente como Einstein de que, afinal, o tempo
também não era completamente independente do espaço. Só faltava esta!
Felizmente, os cálculos clássicos com movimentos lentos como os nossos comboios,
incluindo o TGV do Zezito, não são muito afectados pelo erro que cometemos. Mas
para fenómenos a velocidades próximas da luz, como acontece nos aceleradores de
partículas, os cálculos clássicos podem não funcionar—complicado!...
Fim da injecção, Graças a Deus, dirá quem chegou até aqui!...
...
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