Li há poucas horas uma história de encantar que começa
assim:
Quando o mestre do
chá Sen no Rikyū—o homem que transformou o consumo do chá em cerimónia e o
elevou à categoria de arte no Japão—mostrava indiferença perante o bule do anfitrião que o convidara para sua
casa, este, em desespero com tal atitude, atirou-o ao chão e fê-lo em cacos. Depois
de Rikyū sair, apressou-se a juntar os bocados e, com cola e muita paciência, reconstruiu a peça. Quando Rikyū a viu
mais tarde logo disse: "Agora está
esplêndida!" A velha tinha acabado, mas o seu fim permitiu criar uma nova.
É tradição antiga no
Japão colar a louça partida e tal prática transformou-se em arte. Há colas e
corantes especiais para o efeito e não existe nenhuma preocupação em disfarçar
os consertos—pelo contrário, são uma actividade artística, muitas vezes posta
bem em evidência. Um bule, ou outra peça de louça reparada é mais apreciada que
a antecessora nova. Foi reparada porque merecia ser reparada e é bom que isso
se veja. Magnífico!
Segundo Christy
Bartlett, mestre do chá, de S. Francisco, é a subtil diferença
entre a vanidade do aspecto novo e a manifestação de finitude expressa no
conserto que lhe dá o charme.
Aliás, não se aplica só à cerâmica o conceito.
Celia Pym, artista britânica que faz consertos em roupa, sobretudo em
malhas, criou uma escola em que as peças não são "remendadas": são "transformadas";
significando isto que os consertos são claramente visíveis, com resultado
estético apreciado. O remendo não é sinal de miserabilismo; ao contrário, manifesta
preocupações artísticas, ambientais, cívicas, sociais, económicas e por aí fora. E se vai
pôr um remendo nos joelhos dos blue jeans, porque não tirar daí partido, em vez
de o disfarçar envergonhadamente—ponha um de outra cor, ou com tonalidade azul
diferente: seja criativo!
E, já agora, faça o mesmo com tudo lá de casa. Pode fazer
muito mais do que pensa. Veja aqui um vídeo e inspire-se.
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