quarta-feira, 9 de abril de 2014

CAÇA PINÓQUIOS

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Apanhar um mentirosos não é mais fácil que apanhar um coxo, como se diz—em muitos casos é bastante mais complicado. Classicamente, procura-se detectar sinais de agitação ou nervosismo, alterações fisiológicas, como o aumento da frequência cardíaca, da tensão arterial, da frequência do pestanejar, da exuberância de gestos e coisas assim. É mau sistema, dizem os peritos e os profissionais da polícia.
Há quem controle muito bem esses sinais e quem consiga mentir a si mesmo antes de mentir aos outros; e, inversamente, há quem esteja a falar verdade e se enerve com os interrogatórios. O que é preciso, dizem os modernos psicólogos, é detectar sinais de concentração mental exagerada enquanto o mentiroso fala—vou tentar explicar o que li na revista "The Week".
Mentir bem é uma actividade cognitivamente exigente porque é preciso fazer desaparecer a verdade e construir a falsidade, que não pode contradizer o que o interrogador sabe, ou pode vir a saber. Por outro lado, é preciso fixar os pormenores da história para a eventualidade do interrogatório se repetir, feito pela mesma pessoa, ou por outra. Tal exigência diminui a capacidade para executar outras actividades simultâneas. O mentiroso como deve ser não aceita bebidas, cigarros, ou rebuçados durante o interrogatório.
O pestanejar, tal como o gesticular, são importantes, não porque aumentem nos "bons" mentirosos, mas porque diminuem. Raciocinar, por exemplo para resolver um problema de Matemática, acompanha-se de diminuição da frequência do "bater" das pálpebras e dos gestos que passam a ser muito medidos, incluindo a movimentação das pernas.
Mas a conversa também é característica, tornando-se lenta, e composta de frases curtas, escassas e pouco esclarecedoras, omitindo parte da resposta pedida—uma defesa contra a possibilidade de cair em contradição.
Os profissionais dos interrogatórios procuram ampliar este esforço de concentração para o detectar mais facilmente. A melhor técnica parece ser a de fazer as perguntas sobre os acontecimentos por ordem inversa da sua ocorrência, isto é, do fim para o princípio. Além de complicar muito a construção da mentira, exige grande concentração ao mentiroso. E o método funciona ainda melhor, insistindo em detalhes sem importância para aumentar a carga cognitiva do interrogado que não sabe para que servem as respostas que está a dar.
Mais que os detectores de mentiras, vale um inquiridor bem preparado e arguto—idealmente tão arguto como o inquirido com o sétimo ano de praia.
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