Apanhar um mentirosos não é mais fácil que apanhar um coxo,
como se diz—em muitos casos é bastante mais complicado. Classicamente,
procura-se detectar sinais de agitação ou nervosismo, alterações fisiológicas,
como o aumento da frequência cardíaca, da tensão arterial, da frequência do
pestanejar, da exuberância de gestos e coisas assim. É mau sistema, dizem os
peritos e os profissionais da polícia.
Há quem controle muito bem esses sinais e quem consiga
mentir a si mesmo antes de mentir aos outros; e, inversamente, há quem esteja a
falar verdade e se enerve com os interrogatórios. O que é preciso, dizem os
modernos psicólogos, é detectar sinais de concentração mental exagerada
enquanto o mentiroso fala—vou tentar explicar o que li na revista "The
Week".
Mentir bem é uma actividade cognitivamente exigente
porque é preciso fazer desaparecer a verdade e construir a falsidade, que não
pode contradizer o que o interrogador sabe, ou pode vir a saber. Por outro
lado, é preciso fixar os pormenores da história para a eventualidade do
interrogatório se repetir, feito pela mesma pessoa, ou por outra. Tal exigência
diminui a capacidade para executar outras actividades simultâneas. O mentiroso como deve ser não aceita bebidas, cigarros, ou rebuçados durante o interrogatório.
O pestanejar, tal como o gesticular, são importantes, não
porque aumentem nos "bons" mentirosos, mas porque diminuem. Raciocinar,
por exemplo para resolver um problema de Matemática, acompanha-se de diminuição
da frequência do "bater" das pálpebras e dos gestos que passam a ser
muito medidos, incluindo a movimentação das pernas.
Mas a conversa também é característica, tornando-se
lenta, e composta de frases curtas, escassas e pouco esclarecedoras, omitindo
parte da resposta pedida—uma defesa contra a possibilidade de cair em
contradição.
Os profissionais dos interrogatórios procuram ampliar
este esforço de concentração para o detectar mais facilmente. A melhor técnica
parece ser a de fazer as perguntas sobre os acontecimentos por ordem inversa da
sua ocorrência, isto é, do fim para o princípio. Além de complicar muito a
construção da mentira, exige grande concentração ao mentiroso. E o método
funciona ainda melhor, insistindo em detalhes sem importância para aumentar a
carga cognitiva do interrogado que não sabe para que servem as respostas que
está a dar.
Mais que os detectores de mentiras, vale um inquiridor
bem preparado e arguto—idealmente tão arguto como o inquirido com o sétimo ano de praia.
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